sexta-feira, 10 de junho de 2011

PEQUENOS E BREVES EXERCÍCIOS DO OLHAR

O  filme Foi Apenas Um Sonho, de Sam Mendes, 2008, Frank Wheeler (Leonardo de Caprio), um homem dividido entre viver o seu sonho e manter-se acomodado à realidade aparece representado na cena através da divisão do espelho. O personagem está olhando a foto da esposa April Wheeler.

Em Crepúsculo dos Deuses, 1950, de Billy Wilder, Norma (Gloria Swanson), é uma atriz do cinema mudo que vive do passado glamoroso. Ela sonha em retornar para as telas, pois acha que ainda pode arrebatar o público como outrora. A sua prisão ao passado aparece na cena acima, circundada de fotos antigas.  
Nesta cena, Joe (William Holden) e Betty (Nancy Olson) estão elaborando um roteiro juntos. A iluminação do rosto dela e o sombreamento no dele mostra o contraste de gerações e de potencialidades. Ela é uma aspirante a roteirista, com um longo caminho pela frente, ambiciosa, ele é um roteirista fracassado, tendo-a como uma chance de voltar a escrever para os estúdios.  
No filme Foi Apenas um Sonho, para mostrar o estado de opressão da personagem a um estilo de vida sufocante, o diretor opta por enquadrá-la no espaço de abertura da porta, emoldurada, confinada a vida doméstica. Uma realidade das mulheres de classe média dos anos 50. O contraste entre a tonalidade da roupa e do marrom da porta evoca uma tensão entre as aspirações da personagem e o código social.
Para mostrar a personagem enquadrada ao código social, existe um equilíbrio de cores nos tons marrons e bege. A mulher diante da penteadeira, cercada de fotos dos filhos, mostra-a uma mãe zelosa, da mesma forma que cuidadosa em aparentar-se bonita aos membros da sociedade.
Outra forma de mostrar sintonia. Agora o casal aparece vestindo roupas cujas cores aproximam da cor do ambiente. É um casal enquadrado ao sistema.

Sequência de imagens em que April aparece olhando para o lado externo. Ela dentro de casa pensativa, isolada, aprisionada ao código social. O filme traduz isso em imagens colocando o rosto da personagem novamente dentro de um quadrado, símbolo daquilo que retém algo ou alguém e qe, por sua vez, é propriedade de outrem. Porém o rosto de April olha o céu, símbolo antagônico ao quadrado, por representar o ilimitado (o céu mostra-se ao olho humano com curvas, é arredondado). Na segunda imagem, as linhas horizontais cruzando o rosto da personagem mostra uma divisão, uma fragmentação do sujeito, entre o sonho de liberdade e a clausura.

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