quinta-feira, 24 de agosto de 2017

A ética e o mérito nas produções acadêmicas



Em meio a tantas coisas que nos deixam tristes em nosso cotidiano, eis que nos deparamos com uma postura que muito nos faz acreditar em uma possível civilidade.


Há uns dias, coloquei o meu nome completo no Google e me deparei com um livro sobre cinema que está parcialmente disponível na internet. Chama-se A FAMÍLIA VAI AO CINEMA, dos organizadores Inês Assunção de Castro Teixeira e José de Sousa Miguel Lopes. Na referência, havia uma citação a uma postagem feita neste blog.


Obviamente que encomendei o livro para ler o artigo e ver como se dava a minha participação. Pude verificar que a minha contribuição tinha sido a postagem sobre o filme de Julie Costa-Grava, O AMOR NÃO TEM FIM, postado em 11 de novembro de 2011.


Este gesto me fez pensar em várias coisas. Primeiro no alcance dos blogs, como ferramenta de circulação de ideias, e especificamente este blog. Segundo na ética, já que nem sempre as pessoas dão os créditos aos textos que leem na internet.

A ética talvez seja o ponto principal desta postagem. Muitas pessoas desistem de continuar a escrever em blogs porque os textos escritos não são creditados quando referenciados, gerando a simples apropriação, plágio, que em nada contribui para que este universo colaborativo se mantenha como potencial dialógico e interativo.

Optei por este espaço porque era uma forma de tornar o conhecimento acessível, sem as mediações que encarecem a pesquisa, mas que tem uma fragilidade em sociedades que não sustentam em suas ações a ética e a honestidade.

Fiquei muito feliz com este fato e me reanimou a voltar a escrever nos blogs. Obrigada a Inês e José Miguel por esta aula de ética e de generosidade intelectual. Vou ler agora o artigo.



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O trabalho A ÉTICA E O MÉRITO NAS PRODUÇÕES ACADÊMICAS de Lúcia Tavares Leiro está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
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sexta-feira, 7 de abril de 2017

Jonas: O Circo e o Cinema

Fui assistir recentemente ao filme Jonas e o Circo sem Lona, um longa-metragem da cineasta baiana Paula Gomes. É um filme muito que narra a história de Jonas, um menino de 13 anos que sonha em ser artista de circo. Ele, assim como a sua mãe e avó, atuava no circo do tio dele. A ideia de ter seu próprio circo fez com que Jonas se juntasse aos amigos e, no quintal de sua casa, começasse a ensaiar e se apresentar para as crianças do bairro. É um filme que nos faz pensar nos sonhos que alentamos quando crianças e que as dificuldades da vida muitas vezes quando não impedem a sua realização torna o caminho mais doloroso.

O filme traz uma série de provocações no plano da linguagem cinematográfica. Ele rompe com a quarta parede, fazendo com que os atores lancem o olhar diretamente para a plateia, envolvendo-a e chamando-a para um compromisso, uma reflexão e uma transformação. É um filme que nos emociona em razão do uso desses recursos cinematográficos.

Por ser um documentário, o filme usa diálogos mais próximo à conversa espontânea, com pouca intervenção guiada. O enquadramento em planos fechados e em detalhes acentuam a dramaticidade e, embora as cenas sejam "costuradas" para dar sentido, elas não obedecem a uma regra de passagem de plano, como ocorre com as narrativas com as quais estamos acostumados a ver. É uma composição de quadros sugestiva, que se aproxima da técnica da colagem, mas que não causa estranhamento porque faz sentido no contexto apresentado. Os planos fechados, quando demorados, produzem angústia, uma sensação de beco sem saída, certa impotência diante das dificuldades que o menino passa. 

O sentimento de impotência do personagem atravessa o écran e atinge o espectador que sai da sala de exibição em suspense, atordoado, em um silêncio constrangedor, com a história de Jonas (ou seria com a sua própria história?), pois a história de Jonas é a história de muitos ou pelo menos de uma boa parte das crianças nascidas em bairros da periferia e que tiveram seus sonhos perdidos. O filme deixa em aberto o final e nos provoca: Jonas terá o mesmo fim? Até quando a escola e os gestores públicos vão continuar massacrando as artes e os sonhos? A voz do rádio noticiando atos de violência urbana, drogas, apontam para uma saída: a educação criativa, voltada para a realidade, e o apoio às artes por meio de políticas públicas e privadas. Até quando vamos sabotar os sonhos de crianças e adolescentes? Até quando iremos produzir adultos infelizes e frustrados?
 
O filme é um convite ao sonho, à esperança e à solidariedade que nunca devem deixar de existir entre nós.  

Exibição no Cine Paseo e no Cine do Museu.


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terça-feira, 23 de setembro de 2014

VALENTE E O DESTINO DE UMA MULHER

É impossível não gostar de Merida, uma jovem escocesa ruiva que muito cedo aprendeu a gostar de viver sem as regras de bom comportamento feitas para as mulheres. Ela encontrava mais prazer em atirar flechas, montar cavalo, enfim viver uma vida fora das tarefas domésticas. O seu pai a estimulava a ser livre, contrariando a mãe que a queria casada. Merida não pensa em se casar, e o filme também não aponta para o que ela poderia ser, na verdade compete a ela traçar um outro caminho que ela não sabe ainda qual será, mas está convicta que não será o mesmo trilhado pelas mulheres que a antecederam.

A mãe de Merida não consegue entender isso e exige da jovem que se case. O conflito chega a uma situação limite que a jovem parte em busca de um feitiço que faça a sua mãe mudar de ideia. O feitiço acaba transformando a mãe em um urso, o maior inimigo dos clãs da região.

O processo que é mostrado para o espectador é uma árdua aprendizagem entre mãe e filha e ambas passam a se conhecer fora dos muros da casa, na floresta, símbolo do perigo e também da liberdade. A casa representa a cultura, onde as tensões de gênero são profundas. A floresta une as duas e nela a mãe aprende a ser menos exigente e rigorosa com a filha e consigo mesma e a filha aprende a compreender a mãe. Há uma cena muito interessante que Merida pede que a mãe experimente comer peixe cru e a mãe (no corpo de um urso) faz uma cara de nojo. Nesse momento, Merida se lembra das palavras da mãe quando ela não queria comer algo forçado e lhe retorna com as mesmas palavras. Colocar-se no lugar do outro, estimula a empatia entre as duas, e fazem com que se conheçam mais.

O feitiço só poderia se quebrar se a tapeçaria que trazia a imagem da família, que fora rasgada em um momento de fúria de Merida, fosse novamente unida, isto é, costurada.

No final, Merida realiza o contrafeitiço e a família se une novamente. A mãe menos vigilante quanto às regras, inclusive isso é mostrado através das vestes mais simples e penteado mais solto (ela usava um coque, mas depois prefere deixar os cabelos soltos) e até mais jovem. Mãe e filha passam a ser mais amigas, mais cúmplices.

É um filme que certamente marcará a história da animação, por ser muito mais que uma história bem feita, com recursos visuais impecáveis, mas por trazer um protagonismo de mulheres com uma dimensão política de gênero muito visível. Elas possuem uma força extraordinária: resolvem o futuro dos clãs, administram a casa, são mais eloquentes, inteligentes, hábeis e sensíveis.

Valente é a história de Merida, e também a história sobre o exercício da maternidade.

O LEGADO DE NORA EPHRON

'You look at a list of directors and it's all boys"*  
(Nora Ephron)

*Você olha para a lista de diretores e são todos homens.

Nora Ephron sabia que a indústria cinematográfica era machista, e nos EUA não seria diferente. Antes de ser diretora, Ephron roteirizou filmes dramáticos, como Silkwood: O Retrato de uma Coragem, de 1983. Os anos 80 serão profícuos para as mulheres que viveram a maturidade nestes anos, pois a visão que elas têm naquele momento são reverberações dos movimentos sociais, sobretudo feminista, dos anos 60/70. Assim, neste clima de contestação, essa novaiorquina escreveu a história de uma mulher, vivida pela atriz Meryl Streep, (com quem se encontraria novamente em Julia e Julie, em 2009), uma mulher, funcionária de uma fábrica de componentes nucleares em uma pequena cidade do interior dos EUA. Ela passa a ser representante sindical e luta por melhores condições de saúde e de trabalho para os funcionários da fábrica. Durante todo os anos 80, Norah Ephron se dedica ao escrever e produzir filmes, dentre eles o popular Harry e Sally (1989), uma comédia romântica dirigida por Bob Reiner.

Neste filme, Sally (Meg Ryan) é uma jovem recém-formada que pega uma carona do seu colega de universidade Harry (Billy Cristal), namorado da amiga de Sally. Antes de entrar no carro, Sally se despede de seu então namorado. Harry e Sally ao chegarem em Nova Iorque se separam e quando se reecontram ambos estão sozinhos. Ela já está com  aproximadamente trinta anos e começa a sentir a angústia do tempo, por isso, por pressão das amigas, decide sair com homens em busca de um relacionamento estável.

Sally traz o mal-estar das mulheres que nasceram pós revolução feminista, que são independentes, mas querem ao mesmo tempo viver um relacionamento amoroso e estável. Deste modo, podemos dizer que ela é produto das contradições de seu tempo, pois mesmo sendo instruída e emancipada financeiramente, não conseguiu se desvencilhar das armadilhas emocionais que a condicionavam a depender afetivamente do homem. Isso porque os homens não aceitaram (e ainda não aceitam) que as mulheres sejam independentes financeiramente e emocionalmente deles.

Este filme sofreu duras críticas das feministas e confesso que na época senti o mesmo. Era angustiante, violento ver mulheres maduras sentadas em um bar com um fichário de nomes, em busca dos homens disponíveis na cidade para que pudessem se casar. À medida que iam descartando os candidatos, o desespero e a decepção cresciam.

Contudo, ao mesmo tempo que a cena era penosa para as mulheres maduras que estavam sentadas à mesa de um bar e que desejavam se casar em razão do relógio biológico apontar para o pouco tempo que restava para procriação, a cena traz essa contradição e diria denúncia. Como explicar que mulheres emancipadas profissionalmente estivessem discutindo em uma mesa de bar questões que as prendiam a uma ideologia? Essas mulheres herdaram a abertura obtida por meio de lutas e enfrentamentos das suas predecessoras que viram na instrução e na profissão uma forma de alçar vôos até então negados pela sua condição feminina. As mulheres dos anos 80/90 herdam a liberdade de suas antecessoras, mas não conseguem resolver o impasse de gênero, já que os homens pareciam não acompanhar a nova mulher que se apresentava diante dele. Assim, muitas entraram em conflito porque o seu empoderamento  afastava os homens, assustados com tanta liberdade e vontade, gerando problemas no plano afetivo, já que não correspondidos.

Seis anos depois de Silkwood, Nora Ephron muda a direção para as comédias-românticas que muito raramente abandonará.

Aos 71 anos, Ephron começou a falar de relacionamentos, a flertar com o cinema norte-americano, ao fazer clara referência, por exemplo, ao filme Tarde Demais Para Esquecer, quando Gary Grant e Deborah Kerr marcam um encontro no alto do Empire State, mas ela não vai porque  sofre um acidente. No filme de Ephron, Sintonia de Amor, novamente com Meg Ryan (Annie), a diretora muda o final, invertendo a situação: é a mulher que espera o homem, Sam (Tom Hanks) e o seu filho que se atrasam.

Ephron falava de um poder das mulheres, mas de uma forma muito velada e menos combativa, que incluía uma convivência com o homem. Ela não acreditava em um jogo de inversões no qual o poder das mulheres dependesse da subalternidade masculina.  Nora mostra que o poder da mulher não precisa ser o mesmo estabelecido pelos homens há séculos, é uma tentativa de ser feminista dentro de uma estrutura feita para controlar a mulher: o casamento e a família, por isso, talvez as contradições sejam tão evidentes.



Três filmes, Três diretoras

Nesta semana, três filmes dirigidos por mulheres estão em cartaz:

A Guerra Está Declarada (La Guerre Est Déclarée), 2012,  drama francês de Valérie Donzelli.


Como Agarrar Meu Ex-namorado (One for the Money), 2012, comédia norte-americana de Julie Anne Robinson.


Hotxuá (Hotxuá), 2012, um documentário brasileiro de Letícia Sabatella.

O documentário tem atraído as mulheres do cinema brasileiro, mas o acesso ao produto do ponto de vista comercial é dificultoso. Os dvds custam duas ou três vezes mais do que a ficção. Os filmes considerados de arte também são mais caros do que os comerciais, o que favorece a formação de espectadores para uma estética própria desses filmes, mais próximos da linguagem televisiva. Isso sem contar com as cópias mal feitas, que travam no meio do filme, muitos com problema de série. A mídia para blu-ray só não elimina o DVD porque ainda é cara, mas em compensação, o fato é que depois do blu-ray, os DVDs nunca mais foram os mesmos.

São três filmes diferentes, pertencentes a gêneros distintos: drama, comédia-romântica e drama-documental, respectivamente. O primeiro é uma retextualização de Romeu e Julieta, sendo que a ficção passa a interferir na vida do casal protagonista, uma vez que ambos acreditam que alguma coisa de trágico acontecerá em razão dos seus nomes fazerem referência a clássica tragédia teatral.

O segundo trata de uma peripécia já vivida no cinema de uma outra perspectiva. Jennifer Aniston e Gerard Butler protagonizaram um filme semelhante no qual Butler, vive um policial, contratado para ser um caçador de recompensas de sua ex-esposa (Aniston), uma jornalista perseguida por outras pessoas também (por sinal não vi o filme apesar de a roteirista ser uma mulher, Sarah Thorp). O filme da diretora Robinson é muito semelhante ao de Andy Tannant, mas esse lugar-comum pode ser um exercício interessante do ponto de vista da análise de gênero, pois neste a protagonista, Stephanie (Katherine Heigl), é uma recém-demitida e divorciada que por intermédio de seu primo Vinnie (Patrick Fischler) passa a trabalhar como caçadora de recompensas. A sua primeira tarefa é capturar o policial aposentado Joe (Jason O'Mara), um ex-namorado do colégio que a seduziu. Vejam que nos dois filmes os policiais estão presentes. Tal como o filme de Tennant, este também é roteirizado por mulheres, são elas: Karen McCullah Lutz, Kirsten Smith, Liz Brixius que se basearam no livro de Janet Evanovich, uma autora conhecida por seus best sellers "chick lit" ou literatura cor-de-rosa.
 
O terceiro filme é uma tendência no cinema brasileiro, sobretudo quando feito por mulheres. O documentário se aproxima muito do cinebiografia porque não deixa de se basear na vida de um ser social. Foi assim com Valdick Soriano, dirigido por Patrícia Pillar. Hotxuá é baseado na festa da batata, um ritual realizado pela etnia indígena Krahô, que vive em Palmas (TO), que delimita a passagem da estação da chuva para a seca.

A filmagem documental etnográfica tem sido muito importante para a preservação da memória do Brasil e as diretoras estão sensíveis a essas questões identitárias, dando um caráter político e artístico ao cinema.

CINECLUBE DA UNEB - CINEMA E MULHER

A abertura do cineclube da UNEB, do setorial Cinema e Mulher, não trará uma diretora, mas um diretor. Trata-se do filme documentário ATABAQUES NZINGA, de Octávio Bezerra, filme de 2007.

A ficha técnica é formada por:

Título Original: Nzinga.
Origem:
Brasil, 2007.
Direção:
Octávio Bezerra.
Roteiro:
Rose La Creta.
Produção:
Ana Giannasi e Rose La Creta.
Fotografia:
Hélio Silva e Guerrinha.

Edição:
Sueli Nascimento.
Música:
Naná Vasconcelos.
 
Por esta relação, vemos que o filme foi roteirizado por uma mulher, Rose de La Creta, e produzido por duas, Ana Giannasi e a própria Rose de La Creta. Além de contar com a edição de outra mulher, Suely Nascimento. A ficha apresenta um equilíbrio de gênero ao trazer a mesma quantidade de mulheres e homens em sua produção.
 
Mas a minha escolha para esta primeira exibição deu-se por ser um dos poucos filmes nacionais e comerciais cujo tema trata da identidade da protagonista, mas uma identidade alicerçada na ancestralidade, isto é, na busca de uma jovem negra por sua origem, sua história. O início do filme se passa na Bahia, dentro de um terreiro de candomblé, durante o recolhimento. Portanto, nesta primeira parte, o filme se passa durante o roncó se estendendo até  a saída, quando a protagonista se torna-se filha de Oyá e herdeira da guerreira Nzinga.
 
Neste processo de autodescoberta, feita através do jogo de búzios, a protagonista revela uma angústia existencial, pois  sua dupla orfandade - já que não conheceu seu pai e a sua mãe a abandonou - a deixa triste e deprimida (alusão clara ao banzo, sentimento de saudade da África e de tristeza que os escravizados sentiam, levando muitos a cometerem o suicídio). Esta orfandade também sugere uma conotação mais ampla, uma metáfora para os sujeitos diaspóricos, que tiveram e têm dificuldades em traçar a sua árvore genealógica por causa da separação forçada imposta pelo colonizador sobre os escravizados, entre sujeitos da mesma nação e também graus de parentesco, estratégia de controle contra possíveis rebeliões.
 
É muito significativo como o candomblé aparece  no filme como ventre gerador de identidades, de resistência contra o esquecimento, contra o apagamento da memória que liga os sujeitos diaspóricos à origem africana. É o espaço de força vital, de ligação ancestral com uma função não apenas espiritual, mas de civilização.
 
A personagem, depois de sua saída do recolhimento, segue para o Rio de Janeiro, orientada por sua Yá a se mudar para se desenvolver mais (aqui o olhar do sudeste sobre o nordeste). É importante ressaltar que o atabaque está presente na vida de Nzinga, que sonha com eles e com seus ancestrais. O atabaque aparece no filme como metáfora do ancestral, chamando a personagem para assumir o seu papel de sujeito da história, que é a história dela, mas também de uma coletividade. Ou seja: o candomblé religa este sujeito perdido a um grupo, e este sujeito que deverá reinscrever a história, se apropriando de sua dor e enfrentando os desafios desta nova escrita. Este sujeito é uma mulher. Esta é Nzinga.
 
Você está em Salvador? Venha assistir a este filme!

Dia: 24 de outubro
Horário: 12h,
Local: Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, Auditório Jurandyr Oliveira.

Depois da exibição, ficaremos para conversar um pouco.

 
 
 
Fotos divulgação.

domingo, 28 de abril de 2013

As Ladies Marian em duas versões de Robin Hood

Mesmo quando o filme traz um homem na figura central da trama, não deixo de observar como as mulheres são vistas pelos seus roteiristas e diretores.

Uma personagem instigante é Lady Marian que aparece nos filmes como par romântico de Robin Hood. A literatura mostra que nem sempre foi constante a forma de representar esta personagem e isto pode ser perceptível quando tomamos dois filmes recentes sobre o legendário arqueiro.
 
Uma das versões é a de Kevin Reynolds (1991) Robin Hood, o Príncipe dos Ladrões (Robin Hood, Prince of Thieves) que traz  Mary Elizabeth Mastrantonio como a atriz que desempenha o papel de Lady Marion. A sua primeira aparição no filme já mostra um conflito de gênero quando luta com Robin Hood (Kevin Costner) inicialmente com a espada e depois no corpo-a-corpo, quando é vencida. Neste momento, ela está usando uma armadura preta. Com a presença de Robin Hood, Lady Marion vai perdendo este ar mais agressivo e tornando-se dependente da proteção dele. Robin já havia prometido ao irmão de Lady Marion, morto em batalha, que a protegeria. Lady Marion é forçada a se casar com o xerife de Nothigham (Alan Rickman) que trava uma luta mortal com Robin Hood no dia do casamento, logo após a benção do bispo. Uma luta que Lady Marion só assiste.
 
Já a versão de Ridley Scott, 2010, Robin Hood (Robin Hood) traz como Lady Marion  a atriz britânica Cate Blanchett. A personagem vive com o sogro e espera o retorno do seu marido, um nobre cavaleiro da guarda de Ricardo Coração de Leão, que ao morrer pede que Robin Logstride, um arqueiro, retorne para informar ao pai sobre sua morte. Durante a ausência do marido, Lady Marion protege a aldeia de roubos e tenta se livrar do assédio do cobrador de impostos. A atração entre Robin e Lady Marion é gradativamente apresentada em sequências que mostram ora uma simetria de gênero ora as assimetrias, a exemplo da cena em que ela tenta salvar um filhote de animal de um afogamento. Robin prevê a frustração da iniciativa e resgata o filhote, dando a entender que as mulheres seriam mais emotivas e, por isso, mais impulsivas e  fadadas a gestos sem sucesso. Apesar disso, no final, durante a batalha decisiva que se dá na praia, Lady Marion usa armadura e alinha-se aos cavaleiros para atacar o inimigo. Como não cabe à heroína matar o antagonista, ao travar uma luta contra o malfeitor, desequilibra-se do cavalo e quase é afogada pelo oponente. Quando Robin percebe a investida contra a amada, resgata -a e de quebra mata o inimigo. Esta cena é muito parecida com a do filhote que está se afogando até ser resgatado por Robin Hood. Neste sentido, a assimetria de gênero é reforçada para destacar o papel de gênero atribuído ao homem em duas dimensões sociais (micro e macro): salvar a mulher e libertar o país do inimigo.
 
Se compararmos os dois filmes, vemos que a versão de 2010 está mais próxima de uma representação feminina mais ativa, companheira e lutadora. As relações de gênero se apresentam mais simétrica do que na versão anterior. Mesmo em casa, a presença de Lady Marion é decisiva para a sobrevivência da aldeia já que ela ara a terra, planta, colhe e estoca o alimento enquanto os maridos estão fora em batalha. Na cena em que está prestes a ser estuprada, se defende e consegue livrar-se do inimigo, golpeando-o e matando-o, sugerindo que nem sempre uma mulher terá um homem ao seu lado para livrá-la dos incômodos e que terá de encontrar sozinha meios para sair de situações embaraçosas e, no extremo, violentas. 

Ambas as narrativas não escapam do peso da tradição e ao olhar masculino por detrás das câmeras. Afinal, o filme é sobre Robin Hood e não Lady Marion, mesmo com alguns momentos de equiparação de gênero ao longo do texto.

Como seria um filme do ponto de vista dela?
 
foto divulgação

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foto divulgação

foto divulgação
 
 
 

A ética e o mérito nas produções acadêmicas

Em meio a tantas coisas que nos deixam tristes em nosso cotidiano, eis que nos deparamos com uma postura que muito nos faz acreditar em...