quarta-feira, 1 de setembro de 2010

HISTÓRIAS DE CINEMA

Se fôssemos escrever a nossa autobiografia, o cinema estaria presente nela? Que lugar o cinema ocupa em nossas vidas? O cinema foi apenas entretenimento ou cumpriu um outro papel? Foi tentando responder a estas perguntas que me veio a ideia de postar a minha brevíssima história com o cinema.

Antes de mais nada a minha história com o cinema começa paralelamente ao meu contato com a televisão, talvez um pouco antes. A memória já deixa escapar certos detalhes. No entanto, lembro-me que o meu primeiro filme foi Cinderela, um desenho animado de Walt Disney. Eu não sei exatamente precisar qual o impacto do filme em minha vida, mas me lembro de um estado de encantamento. Morava no subúrbio ferroviário de Itacaranha que nos anos 70 era um lugar "far far away" (expressão que remete ao desenho Shrek dado ao nome do reino - "tão tão longe"). Então ir ao cinema era uma tarefa árdua para a minha mãe que tinha que pegar o trem, subir o Elevador Lacerda, sem contar com todo o processo que antecedia: vestir as filhas. Somos quatro.

Com a televisão (a nossa primeira foi uma Empire, preto & branco) começamos a trocar o quintal ou, na melhor das hipóteses, alternar com a televisão. Passamos a assistir aos seriados que eram muito populares. Tinha aproximadamente 8 anos de idade. Imagens como o foguete Apolo, o cabelo de Elis Regina cortado bem baixinho, as escolas de samba com as suas alegorias (mesmo sem cores) preencheram o meu imaginário. Mas, por incrível que pareça, era Roy Rogers, o cowboy comportado, que fazia a gente sentar diante da TV e colecionar os pacotes de biscoitos Tupy para concorremos aos prêmios. Era divertido, pois tinha uma parte que era gravação local. Depois de assistirmos ao seriado, colocávamos o travesseiro na cabeceira da cama (servia de sela) e galopávamos, encenando aquilo que víamos na TV. Do lado de fora, o pé de araçazeiro virava o submarino, aquele do seriado Viagem ao Fundo do Mar, com direito a sonoplastia que fazíamos com a boca. A hierarquia entre Major e Capitão se dava pela habilidade de subir no pé de árvore. Quem fosse até "o olho" (o topo) recebia o título de Capitão. Então, como eu ficava no meio do caminho, era a Major Lee, enquanto que a minha irmã mais velha era o Capitão Nelson. A caçula, como não subia na árvore, era o monstro marinho (não sei dizer qual o impacto em sua vida em ter sido monstro marinho algum dia).

Na adolescência, os filmes que assistíamos eram todos basicamente dos anos 40 e 50. A minha mãe influenciava bastante. Ela gostava de todas as melodias: Melodia Imortal (1956) e Melodia Interrompida (1955). Sendo que o primeiro era o nosso preferido. Aprendíamos os nomes dos artistas e anotávamos para não esquecer. Só hoje entendo a razão que levou o cinema a projetar seus filmes na televisão, nos anos 70, em geral filmes dos anos 40/50. É que com a chegada da televisão, a indústria cinematográfica norte-americana foi afetada drasticamente pela nova invenção e começou a entrar no novo negócio, vendendo os direitos de exibição dos filmes para a TV, diversificando a fonte de lucros.

Com mais idade, passei a ir sozinha ao cinema, às vezes com minha irmã caçula. Ia aos cines: Excelsior, Tamoio, Guarani, Bahia e Bristol. Neles assiti a diferentes filmes: Rambo, Rocky, O Sol da Meia-Noite, A Testemunha, Camila (Argentino), Alien, Contatos Imediatos do Terceiro Grau, Grease, entre outros. Mas a TV ocupava um lugar preponderante porque era mais barata, segura e cômoda. Os melhores filmes passavam de madrugada, no Corujão. Colocávamos o relógio para despertar e dormíamos durante a tarde, a fim de não sentir sono durante a exibição do filme de madrugada. Amanhecíamos assitindo aos filmes, mas isso só aos sábados, por causa das aulas. Os filmes desse horário eram excelentes. Vi, certa vez, um filme com John Malkovich o qual não me lembro o nome. O filme era em preto e branco e ele narrava a história de sua família e toda a ação se passava apenas em uma sala. O curioso é que ele não fazia parte da ação, mas aparecia como narrador. Era de uma dramaticidade incrível. Nunca tinha visto um filme assim e me impressionou muito. Da mesma forma que A Filha de Ryan, um filme magistral de David Lean, me marcou profundamente. A expulsão de Rose Ryan da cidade por adultério deve ter ajudado a me interessar pelas questões das mulheres.
Nunca deixei de ir ao cinema. Houve épocas que colecionava duas revistas: Cinemin e Set. Atualmente tenho tentado transformar este acervo em crítica, estudando as teorias e tentando aplicar aos filmes que assistia e que revejo com um outro olhar. A cinefilia como um simples gosto se transforma em uma leitura mais criteriosa, em exercício do pensar, em reflexões críticas.

Esta é uma pequena parte da minha história com o cinema. Qual a sua?

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