sexta-feira, 23 de julho de 2010

STEPHANIE MEYER: UMA VAMPIRA DE SEUS LEITORES

Estou em dívida com os seguidores deste blog, já que faz tempo não posto um texto sobre filmes. Recentemente, a convite de minha sobrinha de 17 anos, fui assistir ao filme Eclipse, terceira parte do romance da Saga Crepúsculo. Como sabemos, a escritora Stephanie Meyer vendeu os direitos de filmagem de seus 4 romances a Summit Entertaiment e desde então diferentes diretores têm se aventurado no folhetim vampiresco, considerando folhetim um gênero de texto de fácil leitura, tendo como base uma história estruturada em uma sequência de ações que culminam em um desfecho que aponta para um final mais ou menos fechado, quase sempre um final feliz.


Uma das questões que sempre emerge quando se adapta um romance para um filme, portanto uma outra linguagem , suporte e relação com o leitor, é se o filme foi fiel ao romance. É comum as pessoas saírem do cinema desoladas porque não viu intensidade suficiente em determinadas passagens ou até mesmo que os trechos tivessem suprimido partes tidas como importantes em função do tempo e da seleção de cenas que uma vez editadas e montadas possam dar conta do projeto fílmico.

Penso que o filme destacou as partes relevantes do romance, pois, dos 4 romances, Eclipse é o que tem menos peripécias. Talvez a luta entre recém-criados, os Cullens e os lobos não fosse exatamente como encenamos ao lermos o romace ou até mesmo os nossos personagens fossem melhor dramaticamente do que aqueles que atuaram no filme, mas a luta encenada foi apresentada e confesso que não foi emocionante talvez porque outros confrontos já tivessem sido feitos em Lua Nova (New Moon, 2008), fazendo com que o filme perdesse um elemento importante que é a surpresa.

Em Eclipse, Bella, a protagonista, é mais uma vez centro de disputa de dois rapazes que aparecem quase sempre solicitando dela escolhas, definições, chegando ao ponto de monitorar as suas ações. No filme, esse dado aparece como proteção o que para outros(as) pode ser visto como controle. Além disso, a protagonista é monitorada por seu pai que, como sabemos, também tenta controlar a cidade, garantindo a segurança deles, pois é chefe de polícia. Os homens protegem (ou controlam?) as mulheres das ameaças de outros homens e mulheres . No filme em cartaz, Bella volta a ser ameaçada por Victoria, vampira nômade, que quer vingar-se da morte de seu companheiro James, morto no primeiro filme por Edward quando aquele tentava matar Bella. Em Eclipse, Victoria organiza um exército de recém-criados e, através da sedução, influencia um dos vampiros a liderar esse exército. Diante desse ínterim Bella se reaproxima de Jacob que, em Lua Nova, tinha sido preterido por Edward. Bella sente-se insegura e resolve ampliar as suas chances de sobrevivência e mantém Jake e Edward próximos dela. O clímax do filme dá-se durante embate entre os vampiros recém-criados, os Cullen e lobos que, juntos, resolvem proteger Bella. Paradoxalmente, ela aparece com isca, isto é, é colocada em situação de risco, a fim de atrair os inimigos e, assim, serem abatidos.

O filme centra-se, desde o seu primeiro, na dificuldade de uma jovem sobreviver sem que a sua vida seja ameaçada. Onde quer que ela esteja, alguém parece querer destruí-la: em casa, na escola, na floresta, os ambientes são sempre inóspitos à vida dela. No entanto, a saída que se dá a esse problema é no mínimo conservador, pois o invés de mudar as pessoas, resolve-se empoderar os homens a fim de que elas dependam de sua suposta proteção. O filme salienta os poderes sobrenaturais dos homens cuja força descomunal aumenta as chances da protagonista sobreviver. No entanto, essa força descomunal inexiste o que nos leva a deduzir que essa proteção também. Essa força física é colocada como central no filme o que destaca mais ainda a necessidade da presença masculina na vida da mulher. O curioso é que a necessidade da força masculina respalda o próprio sistema violento e misógino, já que ao invés de resolver a questão da vulnerabilidade que a mulher experimenta na sociedade por sua condição de mulher, o filme reconhece o modelo e apenas aponta para uma saída que em nada altera esse modelo, ao contrário, o leigitima ao atribuir valor e destaque a força física dos homens e reforçar insistentemente o discurso de protetor vinculado ao papel masculino. Esse tipo de pensamento está arraigado no pensamento ocidental e já foi colocado pelas feministas do século XIX como sendo um problema na emancipação das mulheres, tratadas como crianças a serem protegidas pelo pai, em primeira instância, e depois pelo marido.  A atualização desse modelo mostra um recrudescimento dos papéis sociis de gênero, já que retoma uma prática social secular em que os homens protegem e as mulheres são protegidas. Essa organiação social apenas reforça a idéia de que a sociedade ainda não resolveu a a questão da emancipação feminina e sugere que os problemas que afligem as mulheres decorre do fato de terem aberto mão da protação masculina, ficando vulneráveis aos ataques e, com isso, ampliando a violência contra a mulher. Em outras palavras: a desordem social decorre do fato dos papéis sociais terem se alterado, deixando os sujeitos confusos, deslocados e vioolentos.

Um aspecto que me chamou atenção no filme Eclipse, assim como os outros, é de criar um falso efeito de valorização da mulher ao colocá-la no centro de disputa de dois homens, mas a disputa deles é muito mais entre eles, já que ela é objeto de conquista e, portanto, de uma redefinição do que se considera como papel do homem. A disputa acentua a relação competitiva entre eles e evidencia a virilidade dos machos na marcação do território e de sua caça.

Uma das cenas mais esperadas do filme ocorre quando Bella está acampada com Edward e o imenso frio impede que ele se aproxime dela, já que ele é frio. Diante das circunstâncias, ele permite que Jacob deite-se ao lado de Bella e a envolva em seus braços. Nessa hora, o cinema quase vem abaixo porque os adolescentes que lá estavam viam o gesto de Edward como sendo de um homem "frouxo", corno e até mesmo gay. Já Jacob é visto como o oportunista, o garanhão. A jovem Bella é vista como periguete, falsa, sonsa, “puta” porque detém a atenção de dois homens e de certa forma mantém ambos perto de si.

Uma personagem feminina marcante é Victoria que morre em combate, mas dentro de uma lógica maniqueísta, ela representa o mal, é a vilã, então o seu destino já está traçado. Apesar de seremr organizados em uma lógica maniqueísta, dual, vale mencionar que os interesses comuns minimizam os atritos entre lobos e vampiros. Quando se trata de proteger Bella, eles dão uma trégua já que têm interesses comuns, mas mantendo as disputas de território e a cultura de inimigos ancestrais. As coisas mudam em Amanhecer (Breaking Down) que será lançado em 2011.

Mas o filme é basicamente isso.

Justificando o título que dei a esse artigo, penso que Stephanie Meyer tira de seus leitores a vitalidade necessária para produzir mais textos. Recentemente ela publicou um livro intitulado A Breve Segunda Vida de Bree Tanner, lançado no mês em que Eclipse entra nos cinemas brasileiros. O mercado editorial também não fica atrás em seu vampirismo: aproveita-se da "febre" para lançar produtos relacionados, até mesmo relançam produtos. Recentemente dois livros sobre a autora foram lançados, um deles uma biografia não autorizada.

5 comentários:

  1. Vale ressaltar neste filme que enquanto Bella dorme,os rapazes decidem o que fazer. O sono aparece como metáfora de um estado de inconsciência, de alienação, já que ela não interefere na discussão sobre o que fazer naquele momento. São eles que decidem.

    ResponderExcluir
  2. É interessante alguns pontos que você vem trazer do filme. Uma visão que normalmente as pessoas ñ tem, apenas observam o romance entre adolescentes, mas tem muito mais que isso.Os filmes, nos remete à questões históricas, culturais, além do que é apresentando como um ''romancizinho banal''.
    Continue escrevendo, ñ pare!

    ResponderExcluir
  3. rsrs
    Ok, Jaquelide. Não posso parar. Gosto de escrever e o blog me motiva, pois escolhi temas que fazem parte de meus estudos. Continue interagindo e colaborando com seus comentários. E você? Assitiu a alguns desses filmes? Leu o romance? Abraço, Lúcia

    ResponderExcluir
  4. Assiti sim aos filmes da saga crepúsculo, os livros pretendo lê ainda.Já ouviu falar na série médica norte-americana Grey´s Anatomy?

    ResponderExcluir
  5. Oi, Jaquelide
    Si, já ouvi falar do seriado mencionado, mas confesso ter dificuldades para acompanhá-los. São muitos e sempre me esqueço de assistir os episódios. Os da minha época (anos 70/80)assistia a todos.Tinha tempo e cabeça fresca, não me esquecia tão facilmente dos horários e dias. O que você gosta do seridado Grey´s Anatomy?
    ?

    ResponderExcluir

A ética e o mérito nas produções acadêmicas

Em meio a tantas coisas que nos deixam tristes em nosso cotidiano, eis que nos deparamos com uma postura que muito nos faz acreditar em...