quinta-feira, 4 de março de 2010

PAULINE KAEL

“Quando somos jovens, são boas as possibilidades de que encontremos alguma coisa de que gostar em quase qualquer filme. Mas quando nos tornamos mais experientes, as possibilidades mudam.”  (Pauline Kael)

Pauline Kael (19 de Junho de 1919 – 3 de setembro de 2001 ) foi uma crítica de cinema que escreveu para a The New Yorker entre os anos de 1968 a 1991. Publicou o seu primeiro livro em 1965, Perdi no Cinema e em 1971 Criando Kane.

A leitura de Criando Kane é deliciosa. Kael faz críticas severas aos filmes norte-americanos, mas também é incisiva em relação aos críticos empolados amantes do cinema europeu que ao ostentar um gosto artístico acaba se deliciando com as mesmas baboseiras que aparecem no filme norte-americano. É sua a seguinte eunciação: “Quem, em algum ponto, não partiu obedientemente para aquele ótimo filme estrangeiro e depois mergulhou no mais próximo exemplar de lixo americano? Somos não apenas pessoas cultas de bom gosto, somos também pessoas comuns com sentimentos comuns. E nossos sentimentos comuns não são todos ruins.”

Uma de suas críticas contundentes dá-se em relação aos "ginasianos e universitários" a quem Kael se dirige com bastante mordacidade: Eles (ginasianos e universitários) não vêem o filme como filme, mas como parte do novelão de suas vidas”. Nesse aspecto, a crítica credita a (de)formação dos jovens a própria forma de ensinar, visto que os professores ensinavam a analisar os filmes ressaltando apenas o que lhes convinha, dentro do seu lugar institucional de fala:  “Não que as obras que estudamos na escola não fossem freqüentemente ótimas, mas o motivo pelo qual os professores nos mandavam admirá-las era em geral tão falso, embelezado e moralista que o que nelas teriam sido momentos de prazer, e o que tivesse de purificador e também de subversivo, fora encoberto.” Nesse trecho  crítica norte-americana discute o quanto um filme pode ser lido de diferentes maneiras, inclusive como um filme podia atender a propósitos pedagógicos, de formação dos jovens, o que signifificava dizer muitas vezes usar o filme para ajustar o sujeito no código hegemônico. Esse fragmento ilustra muito bem as formas de aproriação de um filme, cabendo ao olhar da crítica dar o tom de sua análise, focalizando elementos conservadores ou desestabilizadores no mesmo filme. Sendo assim, não teríamos filmes ruins, mas filmes, quiçá, mal interpretados.

Um outro trecho que destaco em seu livro diz respeito ao neovitorianismo, diante do fato dos filmes trazerem elementos pertencentes ao código vitoriano, baseado em uma rígida moral social e no exercício do auto-controle: A indústria está agora assumindo um tom neovitoriano, orgulhando-se de seus (poucos) filmes “bons, limpos” – que são sempre seus piores filmes, porque quase nada pode romper as superfícies presunçosas, e até o talento dos atores se torna bonitinho e enjoativo. O mais baixo lixo de ação é preferível a diversões familiares íntegras.” Trazendo para uma memória mais recente, cito Crepúsculo, filme exibido em 2008 sob a direção de Catherine Hardwicke, que dialoga claramente com o vitorianismo do século XIX, mas também com a sua versão mais atualizada, da década de 50, a qual Betty Friedan chamou de "mística feminina". Curiosamente em um momento em que a sociedade parece estar em completo caos, eis que surge os e as baluartes da moral e dos bons costumes para tentar reimprimir os valores puritanos. É bem verdade que a educação das pessoas, jovens principalmente, está tão sem parâmetros éticos que chega a ser irresistível mergulhar nos espartilhos das regras de boa conduta, a que possibilita o convívio social, mas sem dúvida que recorrer a moral vitoriana não é um bom negócio, principalmente paras as mulheres.


“É doloroso dizer aos garotos que foram ver oito vezes A Primeira Noite de um Homem que uma só bastava (...). Como se pode convencê-los de que um filme que vende inocência é uma obra bastante comercial, quando eles tão claramente estão no mercado para comprar inocência?” (Pauline Kael)

Um comentário:

  1. Admiro Pauline Kael. Ótimo texto, parabéns!
    Estou conhecendo o blog agora, vou mergulhar nele :) Abraço!

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