domingo, 1 de novembro de 2009

AS MULHERES ATRÁS DAS CÂMERAS

Isabel Coixet tem despontado no cinema atual como diretora e/ou roteirista de grande talento e sensibilidade. Nascida na Espanha, seus filmes tematizam a experiência humana em seu limite, daí a morte estar sempre presente em seus filmes, física ou simbolicamente. A morte serve de pretexto para enaltecer a vida, em sua plenitude, longe das banalidades que leva a sociedade consumista a aprisionar as pessoas. Em Minha Vida Sem Mim, 2003, e Elegia, 2008, que no Brasil recebeu a estranha tradução de Fatal, a morte faz-se presente para mostrar o quanto as pessoas se prendem a coisas desimportantes, esquecendo-se, diante do espetáculo da aparência e do extremo individualismo, acentuados por uma sociedade de consumo, a alienação do sujeito da percepção de si. Esse aspecto é bem evidenciado no primeiro filme, Minha Vida Sem Mim, através da fala da protagonista, mãe de duas meninas, que se angustia com o fato de saber que as suas filhas terão de cantar músicas estúpidas que passam na televisão. A morte faz com que a vida ganhe outra dimensão e redireciona o olhar para a leveza, para as pessoas e sua humanidade, antes de serem reificadas. Em Elegia, assim como em Minha Vida Sem Mim, a protagonista também descobre que está com uma doença incurável. O personagem masculino, um homem de aproximadamente sessenta anos, apaixona-se por ela, mas tem receio de entregar-se. A morte aparece para ele duas vezes e faz perder duas pessoas significativas: o seu melhor amigo e confidente e a mulher que amava. Em Minha Vida Sem Mim, a protagonista morre aos 23 anos, em Elegia também a protagonista morre muito jovem, dissociando, dessa forma, a idéia da morte ligada à velhice. Essa recorrência nos filmes de Isabel Coixet parece querer nos dizer o quanto a vida é curta e imprevisível e que essa imprevisibilidade deveria levar as pessoas a uma leveza maior, mudando completamente a forma de ver e sentir o mundo, tornando cada momento melhor para si e para o outro.

A consciência da efemeridade da vida longe de levar a um carpe diem desenfreado, sugere um viver intensamente, mas degustando lentamente cada momento.

As mulheres nos filmes morrem, mas não são mártires. Sendo mulheres, a diretora atinge diretamente a audiência feminina para provocar, não a comoção, mas uma reflexão sobre a precariedade da vida e a necessidade de vivê-la mais intensamente, arriscando-se mais, ousando mais e transcendendo-a muito mais.
“Alguien dijo que desde el momento en que uno tiene vida interior, ya está llevando una doble vida. Las palabras, como manadas de peces, pululan en nuestra cabeza y se agolpan en las cuerdas vocales, pugnando por salir y por ser escuchadas por los demás. Y, a veces se pierden en ese camino entre la cabeza y la garganta. Esta película trata de todas esas palabras perdidas, que durante mucho tiempo vagan en un limbo de silencio (y malentendidos y errores y pasado y dolor) y un día salen a borbotones y cuando empiezan a salir ya nada puede pararlas.” ISABEL COIXET

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