sábado, 7 de fevereiro de 2009

REVOLUTIONARY ROAD (Foi apenas um sonho)

Foi apenas um sonho” é o nome do título escolhido para a tradução de “Revolutionary Road”, filme estrelado por Di Caprio e Winslet, conhecidos pelo par romântico no filme Titanic. Aparentemente parece não ter nada a ver, mas o título original e a sua tradução para o português (BR), associado a trama do filme, parecem evocar um passado, lido pelo presente, como um "sonho" de conquistas que aponta para uma realidade frustrante ou na melhor das hipóteses como uma utopia de juventude que, quando vista pelo presente adulto, aparece como uma experiência de um momento da vida e como escape para os conflitos provocados pelas relações cotidianas. Revolutionary Road (Caminho Revolucionário) representa um dos bairros do subúrbio dos Estados Unidos construído para as famílias de classe média que migraram para esses espaços em busca de segurança e tranqüilidade. Esses espaços começaram a ser amplamente resididos nos anos 50, momento em que o discurso da “mística feminina” será fortemente propagado e, também, questionado pelos intelectuais dez anos depois. Betty Friedan, em 1968, com o livro "A Mística Feminia" e Richard Yales, em 1961, com o romance "Revolutionary Road". A década de 60 representou o momento histórico em que artistas, intelectuais e membros organizados da sociedade civil questionaram os valores da classe burguesa, daí o traço existencialista marcante e presente nos personagens de "Foi apenas um Sonhos", April e Frank Wheeler. Ela que sonhava em ser atriz, acaba se tornando uma dona-de-casa e ele que esperava alçar vôos, que incluía Paris, permaneceu em seu emprego, tentando sustentar a família. É um filme que questiona o sentido de felicidade e de realização de homens e mulheres na família. Se o discurso hegemônico propaga a ideologia da família como o “lar doce”, tranqüilo e seguro, como as imagens das casas oferecem, no seu interior, nas vidas das pessoas o que predomina é justamente o contrário, como afirma o autor Yates em entrevista concedida em 1972:

"Eu acho que isso significava mais como uma denúncia da vida Americana na década de 1950. Porque durante os anos cinqüenta, houve uma conformidade de entusiasmo geral em todo o país, não apenas periferia - uma espécie de cegueira, uma desesperada adesão à proteção e segurança a qualquer preço, como exemplificado politicamente na administração Eisenhower e do Joe McCarthy Witchhunts. Enfim, um grande número de americanos foi profundamente perturbado por tudo isso - sentiu ser uma traição definitiva dos nossos melhores e mais bravos revolucionário espírito - e esse foi o espírito que tentei encarnar na personagem, em April Wheeler. Eu quis dizer que o título que o caminho revolucionário de 1776 tinha chegado a algo muito semelhante a um beco sem saída nos anos cinqüenta."

Está clara a referência aos ideais burgueses que fizeram eclodir a independência dos Estados Unidos, mas que, para o autor, foram traídos pelo programa republicano do então presidente Eisenhower, considerado conservador e que criava operações de "segurança social" por meio de projetos de fortalecimento da
política do país pautados no fortalecimento dos valores familiares burgueses.

O filme mostra o impacto dessas intervenções do Estado na vida das pessoas, vendendo seuas ideais e valores humanos em detrimento a uma vida hipócrita familiar em que as pessoas se vêem destruindo seus projetos de vida profissional, portanto de realização pessoal, para viverem confinadas a uma rotina familiar isolada, onde sonhos foram solapados em nome de um ideal pequeno-burguês de família. A prosperidade material estava longe da realização pessoal dos Wheelers.

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