terça-feira, 23 de setembro de 2014

CINECLUBE DA UNEB - CINEMA E MULHER

A abertura do cineclube da UNEB, do setorial Cinema e Mulher, não trará uma diretora, mas um diretor. Trata-se do filme documentário ATABAQUES NZINGA, de Octávio Bezerra, filme de 2007.

A ficha técnica é formada por:

Título Original: Nzinga.
Origem:
Brasil, 2007.
Direção:
Octávio Bezerra.
Roteiro:
Rose La Creta.
Produção:
Ana Giannasi e Rose La Creta.
Fotografia:
Hélio Silva e Guerrinha.

Edição:
Sueli Nascimento.
Música:
Naná Vasconcelos.
 
Por esta relação, vemos que o filme foi roteirizado por uma mulher, Rose de La Creta, e produzido por duas, Ana Giannasi e a própria Rose de La Creta. Além de contar com a edição de outra mulher, Suely Nascimento. A ficha apresenta um equilíbrio de gênero ao trazer a mesma quantidade de mulheres e homens em sua produção.
 
Mas a minha escolha para esta primeira exibição deu-se por ser um dos poucos filmes nacionais e comerciais cujo tema trata da identidade da protagonista, mas uma identidade alicerçada na ancestralidade, isto é, na busca de uma jovem negra por sua origem, sua história. O início do filme se passa na Bahia, dentro de um terreiro de candomblé, durante o recolhimento. Portanto, nesta primeira parte, o filme se passa durante o roncó se estendendo até  a saída, quando a protagonista se torna-se filha de Oyá e herdeira da guerreira Nzinga.
 
Neste processo de autodescoberta, feita através do jogo de búzios, a protagonista revela uma angústia existencial, pois  sua dupla orfandade - já que não conheceu seu pai e a sua mãe a abandonou - a deixa triste e deprimida (alusão clara ao banzo, sentimento de saudade da África e de tristeza que os escravizados sentiam, levando muitos a cometerem o suicídio). Esta orfandade também sugere uma conotação mais ampla, uma metáfora para os sujeitos diaspóricos, que tiveram e têm dificuldades em traçar a sua árvore genealógica por causa da separação forçada imposta pelo colonizador sobre os escravizados, entre sujeitos da mesma nação e também graus de parentesco, estratégia de controle contra possíveis rebeliões.
 
É muito significativo como o candomblé aparece  no filme como ventre gerador de identidades, de resistência contra o esquecimento, contra o apagamento da memória que liga os sujeitos diaspóricos à origem africana. É o espaço de força vital, de ligação ancestral com uma função não apenas espiritual, mas de civilização.
 
A personagem, depois de sua saída do recolhimento, segue para o Rio de Janeiro, orientada por sua Yá a se mudar para se desenvolver mais (aqui o olhar do sudeste sobre o nordeste). É importante ressaltar que o atabaque está presente na vida de Nzinga, que sonha com eles e com seus ancestrais. O atabaque aparece no filme como metáfora do ancestral, chamando a personagem para assumir o seu papel de sujeito da história, que é a história dela, mas também de uma coletividade. Ou seja: o candomblé religa este sujeito perdido a um grupo, e este sujeito que deverá reinscrever a história, se apropriando de sua dor e enfrentando os desafios desta nova escrita. Este sujeito é uma mulher. Esta é Nzinga.
 
Você está em Salvador? Venha assistir a este filme!

Dia: 24 de outubro
Horário: 12h,
Local: Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, Auditório Jurandyr Oliveira.

Depois da exibição, ficaremos para conversar um pouco.

 
 
 
Fotos divulgação.

Um comentário:

  1. Salve. Duas cabeças pensam melhor que uma assim como quatro olhos enxergam mais que dois. Assisti o filme e não fiz uma leitura da forma como você fez sobre as metáforas que ele sugere. O que significa que devo assistir novamente. A ressalva a ser feita é que a orfandade paterna e o abandono materno (tema surpreendente aqui) não é de exclusividade feminina. Conheço homens em igual situação. No mais, parabéns! Que venham outros filmes e textos. Estarei acompanhando. Se cuide... Voe!

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