Fui assistir recentemente ao filme Jonas e o Circo sem Lona, um longa-metragem da cineasta baiana Paula Gomes. É um filme muito que narra a história de Jonas, um menino de 13 anos que sonha em ser artista de circo. Ele, assim como a sua mãe e avó, atuava no circo do tio dele. A ideia de ter seu próprio circo fez com que Jonas se juntasse aos amigos e, no quintal de sua casa, começasse a ensaiar e se apresentar para as crianças do bairro. É um filme que nos faz pensar nos sonhos que alentamos quando crianças e que as dificuldades da vida muitas vezes quando não impedem a sua realização torna o caminho mais doloroso.
O filme traz uma série de provocações no plano da linguagem cinematográfica. Ele rompe com a quarta parede,
fazendo com que os atores lancem o olhar diretamente para a plateia, envolvendo-a e chamando-a para um
compromisso, uma reflexão e uma transformação. É um filme que nos emociona em razão do uso desses recursos cinematográficos.
Por ser um documentário, o filme usa diálogos mais próximo à
conversa espontânea, com pouca intervenção guiada. O enquadramento em planos fechados e
em detalhes acentuam a dramaticidade e, embora as cenas sejam
"costuradas" para dar sentido, elas não obedecem a uma regra de
passagem de plano, como ocorre com as narrativas com as quais estamos acostumados a ver. É uma composição de quadros
sugestiva, que se aproxima da técnica da colagem, mas que não causa
estranhamento porque faz sentido no contexto apresentado. Os planos
fechados, quando demorados, produzem angústia, uma sensação de beco sem
saída, certa impotência diante das dificuldades que o menino passa.
O sentimento de
impotência do personagem atravessa o écran e atinge o espectador que sai
da sala de exibição em suspense, atordoado, em um silêncio
constrangedor, com a história de Jonas (ou seria com a sua própria
história?), pois a história de Jonas é a história de muitos ou pelo
menos de uma boa parte das crianças nascidas em bairros da periferia e
que tiveram seus sonhos perdidos. O filme deixa em aberto o final e nos
provoca: Jonas terá o mesmo fim? Até quando a escola e os gestores
públicos vão continuar massacrando as artes e os sonhos? A voz do rádio
noticiando atos de violência urbana, drogas, apontam para uma saída: a
educação criativa, voltada para a realidade, e o apoio às artes por meio
de políticas públicas e privadas. Até quando vamos sabotar os sonhos de
crianças e adolescentes? Até quando iremos produzir adultos infelizes e
frustrados?
O filme é um convite ao sonho, à esperança e à solidariedade que nunca devem deixar de existir entre nós.
Exibição no Cine Paseo e no Cine do Museu.
O filme é um convite ao sonho, à esperança e à solidariedade que nunca devem deixar de existir entre nós.
Exibição no Cine Paseo e no Cine do Museu.
O trabalho Jonas: O Circo e o Cinema de Lúcia Tavares Leiro está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
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