Mary Shelley |
O que pode haver em comum entre Frankenstein, de Mary Shelley, e E.T, de Melissa Mathison? As criadoras dos monstros mais famosos da história da literatura e do cinema, respectivamente, são mulheres. O que as diferenciam? Elas viveram em épocas e lugares diferentes, tendo possivelmente motivações situacionais distintas para criarem seres quase humanos. Shelley põe em questão a relação criador/criatura e, assim como Mathison, mostra que a criatura é um ser deslocado do espaço social o que pode funcionar como a metáfora da própria mulher. O mito frankestaniano estaria na tradição bíblica se atentarmos para a ideia de que a mulher foi criada a partir de uma parte de um outro ser vivo, neste caso o homem, o que não difere da base constitutiva que norteia o pensamento de Dr. Frankenstein, de criar um ser a partir de outros seres. Quem já teve a oportunidade de assistir ao filme sabe que o ser criado em laboratório é resultado da reunião de várias partes do corpo de seres recém-mortos. Essa referência intertextual nos faz pensar na ideia de que o ser criado em laboratório seria simbolicamente a mulher.
Melissa Mathison |
No século XIX, quando as mulheres passaram por uma educação sentimental e foram incorporadas socialmente a um sistema que as tutelava ao homem,Shelley, que tivera uma educação liberal, sobretudo sendo filha da feminista e filósofa Mary Wollstonecraft, cria a história de um monstro sem nome a partir de uma competição proposta por Lord Byron quando estavam, ela, seu marido, Byron e outros, em um castelo na Suiça em uma noite de tempestade o que os impediu de saírem. Na época, o galvanismo ou eletroforese estava em voga, as discussões científicas entre a vida e a morte norteavam as conversas entre intelectuais.
Ser criado por Dr. Frankenstein |
Já Mathison, roteirista do filme E.T, dirigido por Steven Spilberg, que por sinal tem recebido os louros de criador do extraterrestre, deu vida a um ser que, em razão de não pertencer a um lugar na Terra, sente-se igualmente deslocado. Ora ele é adorado ora execrado. O fato de possuir poderes específicos, eles deveriam ser controlados, pois vistos como perigosos. E.T, diferentemente de Frankenstein, não foi criado a partir da corrente elétrica, mas resulta da mente imaginativa de uma mulher que simbolicamente mostra o que significa ser diferente em uma sociedade. O extraterrestre de Mathison é pequeno, disforme, frágil, amoroso, diferente de outros da tradição cinematográfica, como em Independence Day e Allien o 8º passageiro, os quais são vistos como invasores e perigosos,
E.T de Melissa Mathison |
O E.T de Mathison é diferente. Ele não agride as pessoas. Está perdido e precisa retornar para casa, metáfora do espaço de acolhimento, em detrimento à terra, espaço de hostilidades. As crianças são as suas amigas, pois assim como o extraterrestre elas também não são compreendidas pelo adulto, o que as aproxima da marginalidade desfrutada pelo alienígena.
De tempos em tempos, as mulheres falam de seres estranhos, diferentes, em busca de identidade e deslocados socialmente.
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