quinta-feira, 30 de junho de 2011

Frankenstein & E.T: o estranho mundo para as mulheres

Mary Shelley
O que pode haver em comum entre Frankenstein, de Mary Shelley, e E.T, de Melissa Mathison? As criadoras dos monstros mais famosos da história da literatura e do cinema, respectivamente, são mulheres. O que as diferenciam? Elas viveram em épocas e lugares diferentes, tendo possivelmente motivações situacionais distintas para criarem seres quase humanos. Shelley põe em questão a relação criador/criatura e, assim como Mathison, mostra que a criatura é um ser deslocado do espaço social o que pode funcionar como a metáfora da própria mulher. O mito frankestaniano estaria na tradição bíblica se atentarmos para a ideia de que a mulher foi criada a partir de uma parte de um outro ser vivo, neste caso o homem, o que não difere da base constitutiva que norteia o pensamento de Dr. Frankenstein, de criar um ser a partir de outros seres. Quem já teve a oportunidade de assistir ao filme sabe que o ser criado em laboratório é resultado da reunião de várias partes do corpo de seres recém-mortos. Essa referência intertextual nos faz pensar na ideia de que o ser criado em laboratório seria simbolicamente a mulher.

Melissa Mathison
No século XIX, quando as mulheres passaram por uma educação sentimental e foram incorporadas socialmente a um sistema que as tutelava ao homem,Shelley, que tivera uma educação liberal, sobretudo sendo filha da feminista e filósofa Mary Wollstonecraft, cria a história de um monstro sem nome a partir de uma competição proposta por Lord Byron quando estavam, ela, seu marido, Byron e outros, em um castelo na Suiça em uma noite de tempestade o que os impediu de saírem. Na época, o galvanismo ou eletroforese estava em voga, as discussões científicas entre a vida e a morte norteavam as conversas entre intelectuais.

Ser criado por Dr. Frankenstein
Já Mathison, roteirista do filme E.T, dirigido por Steven Spilberg, que por sinal tem recebido os louros de criador do extraterrestre, deu vida a um ser que, em razão de não pertencer a um lugar na Terra, sente-se igualmente deslocado. Ora ele é adorado ora execrado. O fato de possuir poderes específicos, eles deveriam ser controlados, pois vistos como perigosos. E.T, diferentemente de Frankenstein, não foi criado a partir da corrente elétrica, mas resulta da mente imaginativa de uma mulher que simbolicamente mostra o que significa ser diferente em uma sociedade. O extraterrestre de Mathison é pequeno, disforme, frágil, amoroso, diferente de outros da tradição cinematográfica, como em Independence Day e Allien o 8º passageiro, os quais são vistos como invasores e perigosos,

E.T de Melissa Mathison
O E.T de Mathison é diferente. Ele não agride as pessoas. Está perdido e precisa retornar para casa, metáfora do espaço de acolhimento, em detrimento à terra, espaço de hostilidades. As crianças são as suas amigas, pois assim como o extraterrestre elas também não são compreendidas pelo adulto, o que as aproxima da marginalidade desfrutada pelo alienígena.

De tempos em tempos, as mulheres falam de seres estranhos, diferentes, em busca de identidade e deslocados socialmente.

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