Em um dos clássicos do cinema de animação produzido nos anos 80, Uma Cilada para Rober Rabitt, (Who Framed Roger Rabbit, 1988), dirigido por Robert Zemeckis, há uma referência à célebre frase da feminista Simone de Beauvoir. A conhecida frase é: Não se nasce mulher, torna-se mulher que virou base para a discussão de gênero, distinguindo as diferenças sexuais (aspecto biológico) das desigualdades de gênero (papéis sociais/cultura) . No filme, a personagem Jéssica, uma retextualização da versão Gilda para o desenho de animação, pronuncia parodísticamente o mote beauvariano: "Eu não sou má, apenas me desenharam assim". Assim como a teórica francesa aponta para uma dessencialização dos papéis sociais, dizendo que as mulheres são constructos sociais, o enunciado da personagem feminina no filme, faz referência também ao aspecto cultural, que passa pelo olhar de quem desenha as personagens. No entanto, existe na fala da personagem, a meu ver, um certo determinismo irônico, na medida em que, depois de pronta, a personagem cumpre o seu destino dentro de uma estrutura (social) interna do filme, que está na base do pensamento ocidental cristão que é o maniqueísmo atrelado ao gênero (mulher-anjo x mulher-demônio), mas fazendo de uma forma que soa como uma crítica, pois ela tem consciência de que os seus autores são os responsáveis pela sua conduta, eximindo-se de qualquer responsabilidade dos seus atos, o que pode parecer estratégico dentro do manual de sobrevivência.
A mulher no plano real, embora seja um constructo social, ela pode reverter a sua condição, mas a personagem é resultado da ação direta do homem, que a prende entre os seus valores de gênero, o pincel e o papel. A personagem não se rebela contra o seu criador porque é uma construção deste. E a menos que os criadores mudem a sua visão, as personagens continuarão respondendo às significações de quem as desenha, lhes dá vida dentro de uma estrutura social. É com base nisso que Jéssica ironicamente devolve aos seus criadores o veneno que a moldou, ao referir-se, em um jogo metalinguístico, ao próprio fazer artístico, mostrando que o desenho é uma representação, um constructo que reflete e refrata as regras sociais.
A mulher no plano real, embora seja um constructo social, ela pode reverter a sua condição, mas a personagem é resultado da ação direta do homem, que a prende entre os seus valores de gênero, o pincel e o papel. A personagem não se rebela contra o seu criador porque é uma construção deste. E a menos que os criadores mudem a sua visão, as personagens continuarão respondendo às significações de quem as desenha, lhes dá vida dentro de uma estrutura social. É com base nisso que Jéssica ironicamente devolve aos seus criadores o veneno que a moldou, ao referir-se, em um jogo metalinguístico, ao próprio fazer artístico, mostrando que o desenho é uma representação, um constructo que reflete e refrata as regras sociais.
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