domingo, 7 de novembro de 2010

A "RETOMADA": PARA QUEM?

A ANCINE – Agência Nacional de Cinema - publicou através da OCA – Observatório de Cinema e Audiovisual, dados relevantes sobre os longas-metragens do Brasil comercializados entre o período de 1995, ano que se convencionou chamar de “retomada”, até 2009. Foram 621 longas-metragens ao todo:





Anexo I

A “retomada”, embora pese a favor das mulheres, já que elas abrem este período (Márcia Soberg e Carla Camurati), ainda não possibilitou a equiparação entre a produção fílmica de homens e mulheres. Conforme os dados da ANCINE, percebemos a discrepância dos números ao compararmos a quantidade da produção dirigida por homens em relação às dirigidas por mulheres. Os dados são desoladores, pois mostram uma diferença absurda entre ambos, chegando mesmo a quase nulidade de filmes dirigidos por mulheres, como ocorre em 1999 quando dos 28 filmes lançados, apenas 01 foi de uma mulher. Os diretores se mantêm com alta produtividade e detêm SEMPRE mais de 70% da produção. As mulheres NUNCA chegaram a 30%, já que o seu melhor ano foi em 2005, quando atingiram 28%. Isto porque apenas a categoria sexo foi usada como critério para compor a tabela. Certamente, se outros aspectos fossem considerados, como os étnico-raciais, geração, sexualidade e a classe social dessas mulheres o resultado seria outro, não menos desolador. Em relação à Bahia, vale ressaltar que não existem cineastas baianas com produção lançada comercialmente. Dos 621 filmes, apenas 05 são de diretores (homens) baianos (Jorge Alfredo, Lucas Bombozzi, Edgard Navarro, José Araripe Jr. e Marcelo Rabelo). Além da assimetria de gênero, alarmante pelos dados da ANCINE, a Bahia ainda convive com a disparidade regional, não chegando sequer a 1% (0,80%) da produção comercializada nacionalmente, isto sem contar com a fraca arrecadação. Samba Riachão (2004), de Jorge Alfredo teve um público de 1.330 pessoas; Do outro Lado do Rio (2006), de Lucas Bombozzi, não teve dados de arrecadação divulgados; Eu me lembro (2006), de Edgard Navarro, levou 15.094 às salas de exibição; Esses moços (2007), de Araripe Jr. contou com 2.693 espectadores e, por fim, Batatinha, poeta do samba (2009), de Marcelo Rabelo conseguiu levar 221 pessoas ao cinema.

Apenas para mencionar comparativamente outro país da América Latina, o Cine Cuba cadastrou em seu site 116 cineastas, sendo que 101 homens e 15 mulheres. Em termos percentuais significa dizer que, em Cuba, os homens detêm 87,06% e as mulheres apenas 12,93%.

2 comentários:

  1. Olá, Lúcia,

    Parabéns pelo post! Não consegui encontrar a fonte que você cita no site da OCA. Você poderia passar o link, por favor?

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  2. No site da Oca, na parte de relatórios de 1995-2009. Um abraço e obrigada pela postagem.

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