sábado, 21 de agosto de 2010

DANÇANDO PARA A VIDA, DE SANDRA GOLDBACHER

Sandra Goldbacher já havia dirigido e escrito o roteiro para o filme Retratos de uma Preceptora (The Governess, 1998) tendo como protagonista uma mulher de origem judaica que vai trabalhar em uma casa como governanta cujo proprietário é um homem de ciência que opera com fotografia. Rosina da Silva, nome da personagem, disfarçada de Mary Blackchurch, mostrando-se interessada pela pesquisa se torna uma assistente dedicada, descobrindo, a partir de referências da cultural judaica, como manter a fixação das fotos. A aproximação da governanta com o patrão durante as atividades de revelação fotográfica acaba por revelar também um sentimento avassalador. Em um dos encontros às escondidas, Rosina tira uma foto de seu amante em nu frontal, completamente despojado de qualquer convenção, o patrão ao ver a sua imagem toma um choque, pois se vê visto, inclusive por sua família.  Sem correspondência e diante do completo silêncio do amante, Rosina sai da casa e monta o seu próprio estúdio e passa a fotografar os judeus. Tempos depois ele a procura, mas ela já não se importa mais.


Este filme, inclusive, já foi comentado em outro momento neste blog e, se não me engano, foi o primeiro filme comentado.

Já em Dançando para a Vida (Ballet Shoes, 2007), Goldbacher dirige o roteiro escrito por duas mulheres: Heidi Thomas e Noel Strietfield (Mary Noel Streatfeild), sendo que esta também é a autora do livro que dá base para o roteiro. A história se desenvolve em Londres nos anos 30 e gira em torno de uma família formada por mulheres que viviam em uma casa pertencente a um homem cuja sobrinha era responsável pela educação das meninas. O tio não morava no imóvel, mas visitava a sobrinha. Durantes as suas visitas, levou três bebês órfãos para ela criar. As meninas cresceram e o tio passou um longo tempo sem vê-las, acentuando os problemas financeiros e também os problemas de saúde da sobrinha. As mulheres se veem forçadas a alugar os quartos da casa. Além disso, com o apoio dos inquilinos, resolvem colocar as três meninas, já crescidas, na aula de dança e teatro. As hóspedes eram duas professoras doutoras em literatura e matemática e uma professora de dança. Com isso as meninas foram se instruindo e, também, sendo encaminhadas para as atividades artísticas com o apoio de outras mulheres que estavam lhes abrindo caminho. Uma delas teve aulas particulares com uma dançarina russa; uma outra se tornou atriz e seguiu para Hollywood e a terceira tinha como sonho ser aviadora, pois na época havia uma mulher que pilotava avião. O filme destaca bem a vida difícil de mulheres pobres e o que elas precisaram fazer para se manterem vivas. A casa, o espaço da intimidade, tornou-se fonte de renda. As pessoas, que ali foram morar, de estranhas passaram a ser amigas e a dividir também as esperanças e sonhos comuns. Para aquelas mulheres já maduras, o sonho era fortalecer outros sonhos; era fazer com que aquelas meninas se tornassem mulheres igualmente talentosas para que pudessem ficar na história e servirem também de modelo para outras.

Título no Brasil: Dançando Para a Vida
Título Original: Ballet Shoes
País de Origem: Inglaterra
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 84 minutos
Ano de Lançamento: 2007
Direção: Sandra Goldbacher
Roteiro: Heidi Thomas e Noel Strietfield (baseado no livro de Noel Strietfield)

Elenco:
Emilia Fox ... Sylvia Brown
Victoria Wood ... Nana
Emma Watson ... Pauline Fossil
Yasmin Paige ... Petrova Fossil
Lucy Boynton ... Posy Fossil
Richard Griffiths ... Great Uncle Matthew
Marc Warren ... Mr. Simpson
Lucy Cohu ... Theo Dane

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Para não ter que editar de novo o texto, vou postando cometários sobre as minhas próprias reflexões. O que me chama a atenção em alguns filmes escritos por mulheres, sobretudo este de Goldbacher, é que eles acabam mostrando de que forma podemos tornar as gerações melhores. Isto soa pedagógico, e não poderia deixar de ser, já que as personagens são, em sua maioria, todas professoras, pelo menos as principais. Acentua-se a necessidade de instruir as mulheres, principalmente quando são economicamente tão despossuídas e, também, apresentá-las, pois sem serem vistas, quem poderá notá-las? Se não estiverem nos espaços de circulação de poder, seja ele qual for, como poderão empoderar-se? Acho que o filme pode ser considerado feminista,já que, ainda que de forma sutil, ele consegue mostrar como se excluem as mulheres e, ao mesmo tempo, mostra como elas podem ser incluídas, reinseridas. As três meninas são desafiadas o tempo inteiro, mas sem a ajuda das mais velhas elas não teriam a menor chance. Tiveram de amadurecer, equlibrar as suas emoções para poder fazer parte do mundo adulto, competitivo, cheio de responsabilidades e compromissos. Aprenderam como manter valores humanos quando eram desumanizadas. Discutiram, estabeleceram limites e transgrediram. Atriz, bailarina e piloto de avião. Elas tinham a noção de que provavelmente não entrariam para história porque escolheram três profissões sem muita visibilidade naquela época, já que fazia parte das artes e uma dela não tinha tradição entre as mulheres, mas, o mais importante, realizaram o sonho delas.

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