quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Minha tia me falava de cinema

Eu tinha 18 anos quando a minha tia-avó me falou de um casal de atores de quem ela gostava muito. Provavelmente estávamos conversando sobre cinema, mas não me recordo exatamente o quê. Imagino que ela, uma doceira nascida em 1914, não tivesse ido muito ao cinema em Salvador, até porque pegar o bonde da linha 12 para ir ao centro deveria ser muito difícil, além de outras possíveis dificuldades. A periferia era periferia mesmo. Nelson Eddy e Janeth MacDonald eram dois artistas de Hollywood que atuaram juntos em muitos filmes nos anos 30, quanto a minha tia-avó era uma jovem de vinte e poucos anos e deveria ter se encantado com um dos filmes protagonizados pelos dois.

Um outro filme pelo qual ela tinha muito apreço era Dio, Come Ti Amo, sobretudo pela música interpretada por Gigliola Cinquetti. Certa vez, quando a minha tia-avó ainda era viva, visitei-a com um namorado e enquanto estávamos conversando no sofá (era assim que se namorava, pelo menos na presença dos pais ou familiares), ela se levantou da outra sala e quase imperceptivelmente pegou o LP e pôs na vitrola, saindo discretamente em seguida, sem sequer nos dirigir o olhar. Não estudou cinema, mas sabia que um fundo musical melódico podia reforçar qualquer cena idílica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A ética e o mérito nas produções acadêmicas

Em meio a tantas coisas que nos deixam tristes em nosso cotidiano, eis que nos deparamos com uma postura que muito nos faz acreditar em...