domingo, 18 de dezembro de 2011

Amanhecer, Breaking Down

No filme, Bella e Edward jogam xadrez
remetendo à capa do livro, um exemplo
de Tie In.
O filme que trata da primeira parte do último livro da escritora norte-americana Stephanie Meyer começa com o tão esperado e previsível casamento de Bella e Edward, para desgosto de Jacob, o lobo-amigo-de-infância que nutre um confuso amor pela protagonista. Confuso porque não se sabe se resultado de um imprinting, de uma amizade ameaçada com a aproximação do seu natural inimigo ou sentimento de propriedade fruto de uma competição com o vampiro.

Do ponto de visto ideológico, o filme destaca valores assegurados pelas instituições sociais: a família, a obediência (ao que é “certo”), o casamento e também deixa entrever que mesmo em caso de risco para a mãe, o feto deve ser considerado em primeiro lugar. As cenas são extremamente violentas porque mostram a protagonista magérrima que morre assim que dá a luz a uma criança. O aborto aparece como uma via impensável, mesmo que esteja destruindo a mãe, o que deixa claro a ideologia antiaborto do filme.

Mquiagem e recursos digitais
deixaram a protagonista cadavérica.
O filme também deixa muito claro que o aborto é uma decisão da mãe, incluindo a concepção. Durante a lua-de-mel, Edward parece não querer ter relações sexuais com Bella, temeroso com o que possa lhe acontecer, ao passo que Bella insiste. Este evento contribui para o sentido de que se ela engravidou foi em razão de sua impetuosidade humana, o que reforça a ideia machista de que é a mulher que seduz o homem e por conta disso todas as consequências devem ser atribuídas a ela. Edward deixa transparecer isso em uma de suas falas quando lembra a Bella de que eles seriam apenas um casal. Assim, a decisão pela concepção e continuidade ou não da perigosa gestação incide sobre a mulher, como se apenas ela participasse de todo o processo, deixando a difícil escolha para ela. Mesmo que seja uma opção difícil, não podemos deixar de notar no filme um discurso de que se as mulheres abortam ou não é em função de suas escolhas, o que não é totalmente verdade, já que no processo dessa escolha existem práticas discursivas que orientam a decisão, deixando entrever que para além das subjetividades, existem outras regulações simbólicas (leis, discursos punitivos e condenatórios, premiações, etc) que influenciam a atitude responsiva da mulher. O mito sacrifical materno aparece no filme para nutrir e orientar as espectadoras.
O filme termina de uma forma que nos remete a Avatar. Neste filme, quando a câmera em plano de detalhe se aproxima do rosto do protagonista, Jake Sulle, na direção dos seus olhos, eles se abrem subitamente para mostrar ao espectador que o personagem está vivo não mais como terráqueo, mas como ser de Pandora. Em Amanhecer, a mesma coisa acontece, sendo que para mostrar que Bella tinha passado para outra forma de vida, seus olhos não apenas se abrem, mas mostram as pupilas avermelhadas, como as de um vampiro.

Cabe nesta metáfora a ideia da passagem de uma vida para outra e que essa transposição depende da escolha de cada um. Uma vida seria a humana, da qual Bella abre mão para unir-se, em uma outra forma de existência, a Edward, o que nos remete à crença de uma vida após a morte. Tornar-se vampiro significa viver para sempre, adquirir imortalidade. De onde ecoam essas ideias. Vocês já ouviram isso antes?

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