domingo, 14 de agosto de 2011

ESTUDO DOS FILMES DIRIGIDOS E ESCRITOS POR MULHERES


Em seu livro As Principais Teorias do Cinema – uma introdução, J. Dudley Andrew elabora um estudo com base nos autores, seguindo a mais conhecida corrente teórico-metodológica dos Estados Unidos: a teoria do autor. A partir da escolha dos nomes dos diretores, traça-se um percurso pautado nos aspectos aristotélicos sobre matéria-prima, métodos e técnicas, formas e modelos e objetivo e valor. Para Andrew, esses aspectos são formativos do cinema e podem ser examinados em qualquer situação.

A matéria-prima corresponde a tudo que constitui o cinema, isto é, que pode dar origem ao cinema, ao filme: iluminação, fotografia, roteiro, sala de projeção, veículo, cores. Do que é feito o cinema? Quais os elementos essenciais, principais para se fazer cinema?

Os métodos e técnicas são aspectos que dizem respeito a maneira de obter um resultado, nesse sentido, fílmico. Esse item é muito importante, pois é através da escolha de um procedimento metodológico e técnico que se apreende muito sobre a visão do diretor, ao mesmo tem em que constrói uma atmosfera psicológica, de efeito sobre o espectador. Exemplo: que efeito teria sobre o espectador, o fato da personagem se dirigir à câmera, como se estivesse conversando com o espectador? Que efeito o diretor quer dar? Por que utilizar essa técnica? Exemplo2: que sentido teria um filme todo ambientado na sala escura de uma casa onde somente alguns membros familiares se comunicam? E mais: tendo como voz narrativa um personagem que está fora do ambiente, mas membro da família.

Já as formas e os modelos cuidam da estrutura narrativa, da arquitetura propriamente dita. Exemplo: Qual a forma do filme: um curta ou um longa? Qual o gênero? Qual o tema?

O objetivo e valor correspondem ao propósito do filme e tem relação com a vida humana, com as práticas sociais. É apenas entretenimento? Tem função pedagógica? É político? A discussão temática traz alguma contribuição para a humanidade?

Esses aspectos podem nortear os estudos sobre cinema, mas precisam de outros elementos igualmente importantes que podem interferir nas escolhas. Questões econômicas, por exemplo, e culturais podem obrigar diretores e roteiristas a decidirem por alguns elementos e não por outros. Pensemos nas produções feitas por diretoras e roteiristas mulheres ou nos filmes de animação após a revolução da informática com seus programas em 3D ou dos efeitos especiais como um todo e a sua importância em termos de efeito para o espectador. Considerando os estudos de gênero, levanto algumas questões fundamentais para entendermos como se dá a movimentação das mulheres, até então vistas exclusivamente como atrizes, quando resolvem assumir o outro lado, passando a olhar, captar, registrar a sua forma de fazer cinema.

É J. Dudley Andrew que também nos informa sobre a importância da formulação dos questionamentos, e o entrelaçamento das perguntas, para o desenvolvimento dos estudos sobre cinema. Sendo assim, me propus a responder a algumas questões propulsoras para a investigação sobre o objeto de estudo, nesse caso mulheres que dirigem e escrevem roteiros.

1. Como se deu a inserção das mulheres no cinema?
2. Qual l a relação entre o modelo de sociedade e a exclusão de mulheres dos espaços de direção e roteirista?
3. Que poderes existem nesses dois lugares ao ponto de serem pouco ocupados por mulheres?
4. Quais os principais espaços de atuação das mulheres na composição técnica dos filmes? Que relação há entre esses espaços e os papéis sociais?
5. Qual a interferência das mulheres diretoras e roteiristas para o cinema?
6. Quais os temas tratados por elas?
7. Que tratamento é dado a esses temas por elas?
8. Existem um female gaze ou um feminist gaze nos filmes?

Essas questões, assim como outras que possam aparecer, ajudam a elucidar não apenas as razões que levaram as mulheres a levarem tanto tempo sem atuarem nos espaços de direção e roteiro, mas nos ajudam a entender os mecanismos usados pelas mulheres para inserirem as suas vozes, mesmo quando aparentemente elas estejam em consonância com a ideologia que as excluiu desses espaços. Tais aspectos nos ajudam a entender o quanto foi e é difícil fazer parte do seleto grupo de diretores e roteiristas da indústria cinematográfica mais poderosa do mundo e ter os filmes produzidos e exibidos em todos os países.

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