sábado, 16 de janeiro de 2010

JULIE & JULIA, 2009

Ficha Técnica:


Direção: Nora Ephron
Roteiro: Nora Ephron (baseado no livro de Julie Powell)
Produtores:
Nora Ephron
Laurence Mark
Amy Robinson 
Eric Steel 
Dana Stevens (executiva)
Elenco (principais):
Meryl Streep: Julia Child
Amy Adams: Julie Powell
Stanley Tucci: Paul Child
Chris Messina: Eric Powel

O filme Julie & Julia de Nora Ephron é um desses filmes que confundem. Ao sair da sala, o bilheteiro me perguntou se havia gostado e hesitei em responder, o que me levou inevitavelmente a pensar nas razões que me fizeram demorar tanto na resposta.  

Entendi a escolha de uma diretora e roteirista em filmar a vida de Julia uma professora de 36 anos, funcionária pública, que no final dos anos 40 foi para a França, devido ao trabalho do marido, e lá descobriu a cozinha francesa. Apesar das adversidades, a personagem Julia (Meryl Streep) mantinha uma positividade e um otimismo surpreendente, superando os obstáculos sócioculturais ao se matricular em um curso de culinária formado exclusivamente por homens e todos franceses. Naquela época, no final dos anos quarenta, em que as mulheres tinham como único papel social ser esposa e mãe, Julia cuida da casa e do marido, mas anseia por alguma coisa que a fizesse estar ativa, viva. Julia dedica-se ao curso de culinária e se transforma em uma escritora e apresentadora de televisão, publicando o seu primeiro livro em 1961.

Já Julie (Amy Adams) é uma mulher de 30 anos, também funcionária pública, mas trabalha como telefonista. Desgostosa com a sua vida, sobretudo diante de suas amigas tão bem-sucedidas, e a forçada nova morada, já que se mudara por conta do trabalho do marido, Julie percebe a sua vida completamente sem sentido.  Em um de seus momentos de insatisfação com a sua vida profissional, expões para o marido a necessidade que tem de fazer algo importante e resolve, por sugestão dele, fazer um blog sobre culinária, e ela escolhe as receitas de Julia, postando no período de um ano as suas experiências e impressões sobre os pratos no blog. Destaco um aspecto comportamental que permanece nas duas personagens apesar das décadas que as separam, ou seja, as mulheres sempre se deslocam, mudam de emprego, se desestruturam profissionalmente e pessoalmente por causa do marido.



Os acessos à página do blog rendeu a Julie uma matéria no New York Times e fez com que ela fosse cogitada por vários editores para escrever um livro de culinária. Isso sem contar com os inúmeros convites para participar de programas de TV sobre o tema.


A narrativa do filme mostra a história de duas mulheres que se realizaram na vida com uma atividade muito pouco valorizada: a culinária, sobretudo quando ocupada por mulheres. Falo de uma realização que inclui não apenas o prazer de fazer pratos, mas como isso é "naturalmente" induzido, da forma que o filme apresenta, e pode ser transformado em atividade profissonal. O diferencial é que a cozinha não é vista como um espaço em que a mulher se confina, mas um espaço de criação, paixão e de realização pessoal e profissional. É através da culinária que as duas personagens conseguem se firmar profissionalmente, mesmo que o encontro de cada uma delas com a gastronomia tivesse ocorrido em circunstâncias diferentes. 



A questão é que nos anos cinqüenta é compreensível que as mulheres, educadas exclusivamente para a construção da família, tivesse como uma das poucas possibilidades, a culinária como forma possível de se realizarem profissionalmente. Diferente de décadas depois em que as mulheres estão ocupando outros espaços. Acontece que as mulheres estão atuando em trabalhos que exigem muito pouco delas, são repetitivos, monótonos e, portanto, dificilmente capazes de realizar as suas ambições não supridas pelo casamento (e nem poderia). Nos dois casos, o filme deixa transparecer a influência da cultura de gênero, o que as levam a assumirem a cozinha.


As duas estórias, a de Julie e a de Julia, acontecem paralelamente, com idas e vindas, sem cortes abruptos, o que permite que o filme flua sem estranheza ou fastio. Não é um filme de grandes emoções, ações, reflexões, fortes arroubos, ou gargalhadas, apesar de ser classificado como gênero comédia, mas mantém a espectadora (ou o espectador) com o olhar fixo na tela. O filme “costurou” bem as seqüências para estabelecer as alternâncias temporais – já que as duas estão há décadas diferentes - e espaciais – Julia na França e Julie nos Estados Unidos – sem maiores confusões.

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