sábado, 27 de junho de 2009

Lipstick Jungle, 2008 (SERIADO)

Lipstick Jungle, 2008 (Versão Piloto)

“"Selva de Batom" é uma divertida comédia que segue a vida de três amigas quarentonas da alta sociedade e seus problemas profissionais e pessoais. Com muito humor, essas modernas mulheres se apóiam nos triunfoCor do textos e nas lágrimas para vencer na Big Apple americana.” Sinopse exibido por um site que comercializa o DVD do filme.

A diversão do telespectador tem sido cada vez mais sádica. As pessoas se divertem com o desespero alheio, o sofrimento do outro, haja vista a sinopse acima sobre o seriado.
Assisti durante os festejos juninos ao filme Lipstick Jungle, de 2008, que trata de três mulheres bem-sucedidas que vivem em Nova York conflitos cotidianos de como se realizar profissionalmente, mantendo-se em seus postos nas mais poderosas corporações, e emocionalmente, na família ou nas relações amorosas. Duas delas são casadas: uma com um músico que não consegue se dar bem profissionalmente e a quem ela mantém, juntamente com dois filhos e a outra é casada com um homem mais velho, mas que não tem mais interesse sexual por ela. A terceira mulher, solteira, nesse episódio, passa por uma experiência profissional fracassada, buscando compensação em um relacionamento com um homem rico, mas que ao se aproximar dela em um momento de fragilidade manipula e a aprisiona psiquicamente e emocionalmente, presenteando-a com jantares e sexo, ao mesmo tempo em que a desqualifica dizendo-lhe que enquanto mulher estaria fadada ao fracasso, devido a sua “natureza” emotiva.

O filme assemelha-se muito a Sexy in the City até porque foi baseado no livro da mesma escritora Candace Bushnell. Para uma feminista, é um filme difícil de assistir, embora seja classificado como comédia e as sinopses, para efeito de venda, insistam em chamá-lo de divertido. A mensagem produzida pode ser visto como um backlash, na medida em que reforça a idéia de incompatibilidade entre os dois espaços (profissão e casa), pois as mulheres realizadas profissionalmente passam por situações insuportáveis, humilhantes em sua vida particular, pessoal, afetiva, empurrando-as para a esfera doméstica. A personagem que aparece menos problemas no final é a solteira que encontra o grande amor.

O final é desconcertante, apavorante para as mulheres que querem seguir uma carreira, ocupando cargos de poder. É um apelo às mulheres para não prosseguirem nesses espaços, pois são hostis a elas e, por isso, não sobreviverão na “selva”. A mulher solteira terá seu trabalho clonado por uma outra mulher, disfarçando assim uma polaridade entre os sexos, mas que apenas mostra que a competição se dá em um mundo masculinizado, pelo modelo competitivo vigente, pelas estratégias empregadas para vencer e a supressão de qualquer afetividade vista como impedimento de sucesso profissional nesse modelo de sociedade. O mundo lá fora é para homens ou para quem adota a sua lógica. O funcionário demitido irá processar a sua chefe por assédio e a outra casada será perseguida pelo seu chefe, a fim de encontrar alguma falha de conduta e ser desmoralizada pelos encontros extraconjugais. A solteira terá um "final feliz" dentro do código androcêntrico, pois encontra "o homem dos sonhos" - rico, jovem e bonito. Claro que esse happy end representa o que a ideologia de uma classe dominante quer para as mulheres continuarem em suas casas, cuidando do marido e dos filhos. Por isso, apresenta o desfecho da mulher solteira como o caminho a ser seguido pelas mulheres porque as outras terão de passar por complicações no mundo profissional e pessoal.

Encerro o meu texto com um comentário extraído do mesmo site supracitado, em epígrafe, feito por uma internauta que, pelo visto, envolveu-se e viciou-se nas desventuras e sofrimento das protagonistas:

“ Assim como o seriado Sex and the City o Lipstick Jungle é envolvente e viciante... Mulheres, o mundo feminino tem um novo seriado!”

Um novo seriado, mas com velhas ideologias. Será que não percebemos?

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