domingo, 11 de março de 2012

A informante (Whistleblower, 2010)

Denso. Dramático. Angustiante.

Larissa Kondracki e Eilia Kirwan
O filme dirigido por Larissa Kondracki e roteirizado por Eilis Kirwan e a própria Larissa Kondracki é imperdível, sobretudo para quem se interessa pelas questões de gênero e pela violência contra a mulher. Diferentemente dos filmes que comumente assistimos, em que as mulheres são violentadas pelos seus maridos, ou seja, tratados como um assunto privado, o filme de Kondracki destaca o lado público da questão, expondo a rede internacional de tráfico de mulheres, tendo como fundo o momento pós-guerra na Bósnia. A atriz Rachel Weisz vive uma policial, Kathy, que é enviada para a Bósnia para ser mediadora da paz, na condição de pacificadora das Nações Unidas (ONU). Porém, ao chegar à Bósnia vê o quanto as mulheres são maltradas por razões étnicas e de gênero, sendo violentadas abusivamente por homens de diferentes setores da sociedade: donos de bar, policiais e agentes internacionais, todos envolvidos no tráfico de mulheres.

As cenas são fortes e mostram as torturas vivenciadas pelas mulheres forçadas a realizarem as fantasias mais perversas dos homens. Uma delas Raya acaba conhecendo a policial Kathy que pretende defendê-la, mas não consegue diante da corrupção entre os seus colegas de corporação.

O filme expõe uma rede internacional bilionária que vive do tráfico humano e do sofrimento de várias mulheres, adolescentes e jovens que partem em busca de melhores condições de vida e se deparam com situações de extrema violência. Em uma das cenas, Raya é violentada por um cano de ferro, enquanto às outras são forçadas a assistirem a cena, como exemplo a não ser seguido.

Baseado em fatos reais, ficamos perplexos com o fato de pessoas subjugarem outras no limite da degradação humana, animalizando-as e transformando-as em escravas do prazer em uma sociedade decaída e devastada pela guerra. Reconstruir um país com os vícios daqueles que vão promover a paz parece irônico, soa zombeteiro, na medida em que um país fragilizado pela guerra acaba não recebendo ajuda, mas, ao contrário, sendo alvo de traficantes de toda ordem.

Fico imaginando a Grécia...

Mais uma vez as diretoras de cinema mostram um cinema engajado politicamente feminista.

terça-feira, 6 de março de 2012

VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES NOS FILMES


Uma mulher casada ou solteira é submetida a maus tratos pelo marido ou amante. Esta ideia já serviu de roteiro para vários filmes e a postagem aqui seria longa se analisássemos cada um deles. Alguns destes filmes foram dirigidos por homens, outros por mulheres, mas o importante é que o tema tem sido bastante filmado ao longo dos séculos. O que isso significa?

No dia 08 de março, o mundo se volta às questões da violência contra a mulher, não que em outros dias esta situação não seja acompanhada com intervenção de entidades e de pessoas, mas neste dia formou-se uma rede de ações que dão visibilidade a um problema sério no tecido social. Um problema que adoece a sociedade, transformando os homens em criminosos e as mulheres em cadáver.

A sociedade tem sido a mortalha para muitas mulheres.

Os filmes que tratam da violência contra a mulher são em geral ambientados no espaço domiciliar, com maridos violentos que buscam a todo custo submeter às mulheres a maus tratos físicos e psicológicos. Eis alguns:

Tina, de Bran Gibbson, 1992: narra a história da cantora Tina Turner que sofria na vida real violência de seu marido Yve Turner. No cinema, a atriz Angela Basset personificou a cantora.

Dormindo com o Inimigo, Joseph Rubem, 1990: narra a história de uma mulher recém-casada que é submetia a cárcere privado e violência doméstica. O filme foi estrelado por Julia Roberts.

Nunca Mais, Michael Apted, 2001: O filme conta a história de uma garçonete (Jennifer Lopez) que se casa com um homem rico e sofre extrema violência física durante o casamento.

Terra Fria, Niki Caro, 2005: uma mulher vai trabalhar em uma carvoaria e sofre todo tipo de violência, desde a física à psicológica.

Enquanto Ela está Fora, de Susan Monford, : uma mulher casada com um filho sofre violência do marido. Durante uma das agressões, ela sai para comprar papel de presente e no estacionamento do shopping é acuada por quatro homens que resolve persegui-la.

Thelma & Louise, Ridley Scott, 1991: Apesar de ser dirigido por Scott, o filme foi escrito por Callie Khouri, uma das poucas cineastas feministas norte-americanas que consegue comercializar seus filmes. Thelma (Geena Davis) e Louise (Susan Sarandon) são amigas e resolvem sair no final de semana para se divertirem. Thelma é casada com um homem machista e Louise tem uma relação com um homem, biotipo latino, assim como o de Thelma, que também é violento. Durante a viagem de lazer, após paparem em um bar, Thelma é quase estuprada por um homem que é morto por Louise.

Terras Perdidas, Jocylin Moorhouse, 1997: narra a história de três irmãs que são sexualmente aliciadas pelo pai, provocando grandes traumas nas duas. Além disso, o filme mostra ainda como as mulheres são sacrificadas pela ignorância, pois uma delas desenvolve câncer de mama e a outra esterilidade em razão de substâncias tóxicas encontrada na água.

Esposas de Stepford, de Brian Forbes, 1975: narra a história de uma mulher casada, com dois filhos, que trabalha fora, mas é persuadida a morar em um subúrbio onde as mulheres vivem exatamente como os homens desejam, mas para isso elas precisam morrer.

Flor do Deserto, de Sherry Hormann, 2009: o tema principal é a mutilação. Uma mulher africana é mutilada, mas na fase adulta consegue ir para Londres onde começa a trabalhar como garçonete. Neste lugar, um homem a convida ser modelo.

Encantadora de Baleias, Niki Caro, 2002: uma menina é rejeitada pelos patriarcas maori por ser mulher, muito embora tenha todo o perfil de líder espiritual, mais do que os meninos.

Meninas, Sandra Werneck, 2006: a violência social funde-se com a de gênero. Em forma de documentário, várias histórias de adolescentes se cruzam, mostrando a violência que sofrem no dia-a-dia pelo fato de serem mulheres. Um dos temas é a gravidez na adolescência.

O Poder do Amor, Lasse Halsström, 1995: com roteiro da feminista Callie Khouri, o filme mostra a opressão de um pai e marido sobre as filhas e esposa.

O Piano, Jane Campion, 1993: o filme narra a história de uma mulher, mãe solteira, muda, que é enviada para a Nova Zelândia a fim de se casar com um homem que sequer conhece. Lá sofre violência por parte do marido e do amante.

Razão e Sensibilidade, Ang Lee, 1995: No século XIX, duas irmãs vivem os dissabores por serem pobres, sem dote, considerando que este era uma condição sine qua non para o casamento. É a violência de uma sociedade contra as mulheres.

Sonhos Roubados, Sandra Werneck, 2009: três amigas adolescentes que moram na periferia são abusadas por amantes e padrastos. Gravidez, estupro, aliciamento, são temas deste filme.

Tomates Verdes & Fritos, Jon Avinet, 1991: narra a história de duas amigas que abrem um restaurante, sendo que uma delas é casada e sofre violência doméstica.
 
A lista é enorme, mas fico por aqui. Podemos perceber neste pequeno corpus o quanto os anos 90 foram profícuos para o tema da violência contra a mulher.

A ética e o mérito nas produções acadêmicas

Em meio a tantas coisas que nos deixam tristes em nosso cotidiano, eis que nos deparamos com uma postura que muito nos faz acreditar em...