domingo, 31 de julho de 2011

O Feminismo de Callie Khouri

Callie Khouri
Thelma (Geena Davis), em Thelma e Louise (Thelma & Louise), 1991, diz a Louise (Susan Sarandon) que tem talento para desafiar o sistema patriarcal, dizendo ainda que parecia já ter nascido para este intuito. Em O Poder do Amor (Something to Talk About), 1996, Norma Rae (Kyra Sedgwick), sugere que a irmã Grace (Julia Roberts) faça alguma coisa drástica, mas a irmã responde que já tinha feito ao desafiar o poder patriarcal, expondo a hipocrisia da família, a autoridade do pai e do marido e ao emancipar-se, tomando as rédeas de seu destino. Já em Loucas por Amor e Viciadas em Dinheiro (Mad Money), 2008, as protagonistas tentam mudar a sua realidade ao desafiar o poder institucional.

Nos três filmes apresentados, as mulheres aparecem como estrategistas, com grande poder de organização e de cumplicidade, podendo realizar qualquer coisa, assim como os homens, sugerindo que a fronteira estabelecida entre o que os homens e mulheres podem fazer e sentir é uma construção cultural.

A quem interessa a manutenção dessas fronteiras? Como as mulheres estão sobrevivendo (ou não) a elas?

No próximo Encontro do Curso Cinema e Mulher assistiremos Loucas Por Amor e Viciadas em Dinheiro, dirigido por Callie Khouri.

 ***
Callie Khouri é uma texana de 54 anos que desenvolveu três projetos para o cinema como roteirista (Thelma e Louise, O Poder do Amor e Divinos Segredos) e dois como diretora (Loucas Por Amor e Viciadas em Dinheiro e Divinos Segredos (2002)). Apesar dos poucos filmes, Khouri se destaca pela qualidade, por tratar os filmes com uma abordagem visivelmente feminista.

terça-feira, 26 de julho de 2011

VII PANORAMA internacional DO CINEMA

O quê: VII Panorama Internacional Coisa de Cinema
Quando: 18 a 25 de agosto de 2011
Onde: Salvador
Oficina: Fruição de Cinema e Crítica Cinematográfica
Quem ministrará: crítico, pesquisador e jornalista João Carlos Sampaio.
E-mail: panorama_inscricao@yahoo.com.br

A oficina terá carga horária de 20 horas/aula, será gratuita e realizada de 15 a 19 de agosto, pela manhã, das 8h às 12h, sendo quatro horas/aula diárias, incluindo trabalho prático no último dia.

Ao final do curso, cinco participantes serão selecionados para compor o júri especial do VII Panorama Internacional Coisa de Cinema. Isto garantirá entrada franqueada aos filmes da competição oficial e a possibilidade de aplicar os conhecimentos desenvolvidos no curso com devido acompanhamento do ministrante da oficina.

Fonte:

http://www.coisadecinema.com.br/coisadecinema/coisadecinema/coisadecinema.html

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Encantada (Enchanted, 2007), Kevin Lima


Certa vez li uma crítica sobre o filme Encantada, da Disney, não me lembro onde, pois faz muito tempo, mostrando o quanto o filme tinha inovado, mostrando que a representação de príncipes e princesas como a Disney sempre narrou passava por mudanças, chegando mesmo a dizer que seria uma atitude revisionista da Disney de suas próprias produções. No mundo atual, não caberia mais o comportamento e atitudes dos monarcas de séculos atrás, e deixa claro que a linha entre real e imaginário é tênue e essa imperceptível linha, a meu ver, fica mais evidente em razão de ser um filme e não uma animação. O que é salutar, mas não é uma leitura aprofundada do filme.

Do ponto de vista de gênero e da recepção, como veremos abaixo, pode-se ver o quanto a assimetria de gênero é visível no filme em questão, o que coaduna com toda a tradição dos contos de fada reinscritos após a ascensão da burguesia. Acordei agora há pouco, são 06h da manhã, e me veio a ideia de que a mudança de ambiente sociocultural dos protagonistas – o príncipe e a princesa – não se deu de forma simétrica, já que ao chegar a Nova Iorque o comportamento da princesa torna-se um valor, apesar das pessoas estranharem. Em razão da sua ingenuidade, de sua extrema bondade, doação, o mundo ao seu redor muda: um homem se apaixona por ela, um divórcio prestes a se consumar é desfeito, o amor paira no ar só com a presença da princesa. No entanto, o príncipe, que também possui uma atitude altruísta, além de ser bondoso e ingênuo, fica completamente deslocado, a tal ponto de no final, ele ter que voltar para o mundo da fantasia, para o SEU reino, mas sem "perder a viagem", isto é, com uma mulher que o acompanha para, então, se casarem.

A assimetria de gênero dá-se pela forma que os dois – príncipe e princesa – são tratados pela direção do filme, reproduzindo a ideologia de gênero de que a ingenuidade, a bondade, a doação ao outro, só são valorizados quando “colados” ao corpo da mulher, porém as mesmas atitudes não são valorizadas no homem, e por isso só possível de acontecer no mundo da fantasia, da imaginação, não no mundo real.
Outra observação é que o príncipe e o personagem que se apaixona pela princesa (Edward) não deixam o seu espaço, mas as mulheres, sim. Significa dizer que eles ficam no "reino" deles, onde eles têm autoridade para exercer poder, as mulheres, ao contrário, são desterritorializadas, devem seguir o homem, o que é bastante androcêntrico. Outro aspecto diz respeito a uma ideia de compensação amorosa, é como se as mulheres estivessem sempre em busca do 'grande amor", independente do sucesso que fazem na carreira profissional, por isso, ao ter o seu noivado rompido, a personagem do mundo real une-se ao príncipe imaginário, mostrando a incompatibilidade para a mulher de viver uma vida profissional e um amor. Este só poderia ser experimentado no mundo da fantasia, da imaginação, uma forma de dizer que seria impossível que no plano real uma mulher pudesse vivenciar as duas experiências. Numa escritura simplista, binária e oposicional, o discurso fílmico não contempla a compexa dinâmica vivida pelas mulheres no mundo contemporâneo, na medida em que elege uma mulher sem profissão como modelo de mulher exemplar: amada, querida e desejável. As mulheres que focam a sua realização em um grande amor, acham-no, mas aquelas que seguem a carreira profissional só o encontram na imaginação, é o que o filme diz. Pode haver mensagem mais androcêntrica do que essa? Por outro lado passa ainda a falaciosa ideia de que no mundo real, o homem de espada não teria mais espaço, o que de fato faz sentido, se considerarmos uma tradução "ao pé da letra", mas para impor a sua força o homem desenvolveu outras formas para imputar a sua vontade (claro que existem muitos que não pensam assim) 



Visitando algumas páginas para ver se encontrava o artigo ao qual me referi no início desse texto, acabei encontrando outro. Vejam as duas descrições das personagens feitas por Érika Farinha e observe o que o texto dela nos diz:




Observe que embora a personagem se sinta deslocada no novo ambiente, ela se adapta, já que é aceitável que a “ingenuidade de uma criança” parta das mulheres, mas não de um homem, por isso o príncipe perfeito não cabe no mundo real, como diz Farinha, ele só existe no mundo da fantasia.

título original:Enchanted
gênero:Comédia Romântica
duração:1 hr 47 min
ano de lançamento: 2007
distribuidora: Buena Vista Pictures
direção: Kevin Lima
roteiro: Bill Kelly
produção: Barry Josephson e Barry Sonnenfeld
música: Alan Menken e Stephen Schwartz
fotografia: Don Burgess
direção de arte: John Kasarda
figurino: Mona May
edição: Gregory Perler e Stephen A. Rotter
efeitos especiais:Tippett Studio / Proof / Realscan 3D / Reel FX Creative Studios

Fontes:
http://www.recantodasletras.com.br/artigos/2517642

sábado, 16 de julho de 2011

Os riscos e rabiscos sobre feminismo

Falar em feminismo nos dias atuais se tornou um problema porque ao se referir ao termo, pensa-se imediatamente em um feminismo localizado historicamente, com suas razões localizadas espaço-temporalmente e, também, que estariam confinadas a ela. Isso não significa dizer que o feminismo seja a-histórico, mas seria uma questão mundial, pelo que vemos através do nosso cotidiano e nas formas artísticas de expressão, como o cinema, em que as mulheres, em diferentes culturas e países, estão falando das mesmas coisas – de opressão, de desempoderamento – e de coisas também específicas – as práticas locais. Acontece que as feministas desistiram de falar daquilo que as une – feminismo da igualdade - em prol daquilo que as diferenciam – é o feminismo da diferença. No entanto, acredito que o particular materializa um discurso de opressão presente em  todos os continentes, principalmente na América Latina. Logicamente que os discursos de deslocamento estratégico do lugar de objeto de crítica mostra que confrontar as instituições – estado, família e religião –, como fizeram as feministas dos anos 60/70 é muito desgastante, um caminho quase suicida, restando às feministas atuais recorrerem a questões não menos amenas, mas sem os holofotes sobre elas, por isso a cotidianidade, às relações de poder que se estabelecem nas práticas sociais diárias são as eleitas, na tentativa de encontrar respostas para as suas questões particulares, grupais, ainda que com o apoio de novos parceiros que as tutelem (não mais os maridos, mas outros). Enquanto isso, o feminismo se torna um grande território formado por pequenas glebas (lideradas muitas vezes por homens (?!)), estas unidas em um propósito particular, de interesse também desses homens. As “feministas” buscam em outros enlaces um forma de sobreviverem, nada muito diferente das nossas comédias românticas, projetadas pelos filmes. Tais enlaces só provam o quanto as desigualdades entre homens e mulheres são difíceis de ser resolvidas.

Vemos nos filmes (pensei em um agora de 2009) ambientados nos dias de hoje, e centrados nas relações familiares, a exposição de enfrentamentos seculares: perseguições de maridos, sabotagens institucionais, marginalidade da mulher em razão das decisões que contrariam a ordem androcêntrica, enfim, questões suscitadas pelas mulheres nos anos 60/70 e que achávamos (ledo engano) que estavam superadas, e que, na pior das hipóteses, teríamos que enfrentar novos problemas históricos e culturais.

 Os filmes dirigidos ou roteirizados por mulheres têm focalizado as mulheres no espaço familiar, como esposas, filhas, irmãs, mães e, também, nas relações de amizade. De qualquer sorte, trata-se da intimidade, lugar onde as mulheres se sentem mais à vontade para falar (talvez por força do hábito). Mas os enfrentamentos, no plano das relações sociais, sobretudo familiares, colocam em xeque a própria organização familiar e as relações de seus membros, nada próximo do modelo idealizado e representado pelas propagandas de agências bancárias, de corretora de imóveis ou de supermercados.

As feministas são representadas como mulheres mal vestidas, desgrenhadas, enfezadas, rancorosas, solitárias, vingativas, ressentidas, marginais. As feministas são vistas como as desiludidas no amor. No filme Pode Bater porque Ela é Francesa, de Melanie Mayron, 2002, elas parecem ter se cansado deste lugar, uma vez que uma jovem aluna feminista acaba usando as mesmas estratégias de suas colegas bem ranqueadas na escola para manipular a audiência e acaba vencendo um concurso escolar que valia uma bolsa para a universidade. O teste era apresentar um documentário e a jovem feminista fez sobre um menino com autismo, apresentado de forma comovente, incluindo uma lacrimosa performance.


Já no filme de Rosane Svartman, Como Ser Solteiro, 1998, do gênero fílmico comédia-romântica, a personagem que se torna feminista, flagrou antes o namorado com outra mulher, o que a fez odiar os homens (reação emocional) e partir para uma disputa político-partidária (projeção para a sociedade), cujo programa baseava-se em uma desilusão amorosa. O slogan “o pessoal é o político”, na minha concepção, foi completamente distorcido e ridicularizado, já que, o pessoal, a que se referia as feministas dos anos 60/70, não significava apenas a experiência particular, mas como essa experiência ganhava dimensões amplas ao se verificar as vidas de outras mulheres, transformando-se em uma luta política. Se para hoje parece bizarro se posicionar como feminista, pensar como a vida de uma mulher se conectava a outras, para a época era uma questão de sobrevivência, o que parece superado. Enganam-se. Neste sentido, o filme deixa transparecer certo constrangimento ao se referir a identidade feminista. A cena em que a personagem está na TV para um debate com o autor do livro (que era seu namorado) sobre como viver a solteirice masculina é emblemática. Enquanto ele se mantém impassível, ela se descontrola.


Quando está fazendo passeata nas ruas, panfletando, as reivindicações parecem deslocadas da realidade, soa estranho, como clichês sem nenhuma consistência, mostrando, desta forma, que o feminismo é algo do passado e que não tem mais força política, uma vez que a personagem não consegue tantas adeptas quando o autor da receita de como ser solteiro. Além disso, mostra que as feministas mais jovens estariam reproduzindo falas vazias de sentido, já que vividas em outra época, como se hoje não fizesse mais sentido ser feminista e como se as questões do passado já tivessem sido vencidas, superadas. Outro engano.


Mesmo que alguns homens não pensem assim, e fico feliz que eles tenham essa visão revisionista da cultura, não podemos desvincular que historicamente as desigualdades de gênero foram um projeto deles – seja na Europa, nas Américas, na Ásia e na África -, mas que por ter se tornado lei (uma mão invisível, como se ninguém a escrevesse), acabou sendo reescrita tanto por homens quanto por mulheres. Mas a concepção é masculina, até porque as mulheres não participavam das decisões e muitas, por serem tuteladas e aprisionadas ao código, acabavam seguindo o fluxo, porque muitas vezes isoladas ou porque a sociedade a compensava. Apesar disso, no decorrer dos acontecimentos, homens e mulheres foram percebendo que as assimetrias de gênero não faziam bem a ambos, mas isso não desfaz a história e os homens precisam lidar com esses fantasmas. O patriarcado mostrou que o seu sistema de organização social, baseado no autoritarismo que tanto marcou a história e os discursos na América Latina, era nocivo, pois formava homens e mulheres medrosos, fracos de espírito, rancorosos e vingativos, enfim gerava o mal.


A crítica feminista precisa dar conta dessas complexidades atuais, em que, diante de velhos paradigmas envernizados, as mulheres são novamente bombardeadas por discursos que a fazem mergulhar em um narcisismo quase infantil, deslocando-as do mundo adulto, onde poderiam estar em condições de enxergar o funcionamento do mundo, sem o véu protetor diante dos olhos para confundi-la. Talvez a feminista do filme Pode Bater Porque Ela é Francesa nos dê alguma ideia.

Curso Cinema e Mulher

Começou hoje no Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, Salvador, o mini-curso Cinema e Mulher.

A abertura do curso envolveu a apresentação da metodologia de trabalho, assim como a lista de filmes a serem exibidos e debatidos nos encontros. Entre eles, Thelma & Louise, O Poder do Amor, Loucas por Amor e Viciadas em Dinheiro(roteiros de Callie Khouri) , Terras Perdidas (direção de Jocelyn Moorhouse) e Partir (direção de Catherine Corsini). Com estas películas, trabalhar-se-á a partir de  dois eixos - um focado na autoria dos roteiros (Callie Khouri) e o outro no eixo temático (o patriarcado)

O curso possui 30h de duração e acontece aos sábados até setembro sob a coordenação da professora Lúcia Leiro. Foram oferecidas 30 vagas.

Informações: ltleiro@gmail.com

terça-feira, 12 de julho de 2011

Pagu - Ordem de Mérito Cultural

O Ministério da Cultura informa que está aberto o prazo para a inscrição das propostas de indicação à Ordem do Mérito Cultural para o ano de 2011. O tema central da celebração desta edição será Pagu- Sonho-Luta-Paixão em homenagem a Patrícia Rehder Galvão, conhecida pelo pseudônimo de Pagu, escritora e jornalista brasileira que teve grande destaque no movimento modernista iniciado em 1922.

Criada em 1995, pelo Ministério da Cultura, a Ordem do Mérito Cultural é o reconhecimento do Governo Federal a personalidades, grupos artísticos, iniciativas e instituições que se destacaram por suas contribuições à Cultura brasileira.
(...)
As indicações podem ser enviadas para o site do Ministério da Cultura até o dia 22 de julho, mediante o preenchimento do formulário específico disponível no endereço eletrônico do MinC , ou pelos Correios, após download do documento ser preenchido e encaminhado para o seguinte endereço:

Ordem do Mérito Cultural 2011
Ministério da Cultura
Assessoria de Comunicação Social
Esplanada dos Ministérios, Bloco B, 4º andar
CEP 70068-900 Brasília – Distrito Federal
Dúvidas e informações:
Tels.: (61) 2024- 2406, com Eliane Rodrigues, ou 2024-2411, com Cleusmar Fernandes.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

CINE ANIMA OLINDA

Estão abertas *Inscrições para as turmas de uma semana, grátis*, na SEPAC - Secretaria de Cultura de Olinda, Rua de São Bento 160, próximo a Prefeitura, das 9h às 12h e das14h às 16hs com Rosildo ou Diógenes ou através do e-mail do Ponto de Cultura.

Durante as oficinas são realizadas Mostras de Cinema de Animação com exibição para os alunos, em especial a*Mostra Nordeste*, que é utilizada para discussão das técnicas dos estilos e dos temas.

Inscrições para as turmas de uma semana, grátis na SEPAC - Secretaria de Cultura de Olinda das 9h às 12h e das14h às 16hs com Rosildo ou Diógenes ou através do email do Ponto de Cultura: lulagonzaga@gmail.com ou cinemadeanimacao@gmail.com ou fones: Lula Gonzaga 81- 9790.2251 e 8625.1341.
Fonte:  http://pontocinemadeanimacao.blogspot.com/

sexta-feira, 8 de julho de 2011

VII Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual

Apesar da pouca presença de filmes dirigidos por mulheres e na sua quase nulidade nas mesas-redondas (apenas uma representante para preencher a cota), o VII Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual acontece em Salvador e fica a dever no quesito presença feminina no cinema. De qualquer sorte, vale a pena conferir o evento que acontecerá entre os dias 25 e 30 de julho de 2011, no DIMAS, no Goethe-Institut e no TCA.



Confira no site: http://www.cinefuturo.com.br/2011/lecturers

A ética e o mérito nas produções acadêmicas

Em meio a tantas coisas que nos deixam tristes em nosso cotidiano, eis que nos deparamos com uma postura que muito nos faz acreditar em...